Constant Puyo, Chant Sacré, 1899 |
segunda-feira, 30 de maio de 2022
Câmara discreta (10)
sábado, 28 de maio de 2022
Impressões 97. Carga pesada
Jozef Emiel Borrenbergen, Heavy load, 1923 |
quinta-feira, 26 de maio de 2022
O sal do silêncio (82)
terça-feira, 24 de maio de 2022
Meditação Breve (180) Símbolos e palimpsestos
Albert Monier, L'écriture de la lumière, c. 1951 |
domingo, 22 de maio de 2022
O Espírito da Terra (12)
Otto Scharf, Waldbach, 1902 |
sexta-feira, 20 de maio de 2022
Arqueologias do espírito 27
Caspar David Friedrich, Puerto de Noche, 1818 |
quarta-feira, 18 de maio de 2022
O sal do silêncio (81)
Léonard Misonne, Splendeur de la Boue, 1938 |
segunda-feira, 16 de maio de 2022
O Espírito da Terra (11)
Leonard Misonne, Sortie de la Gare, 1939 |
sábado, 14 de maio de 2022
Micronarrativa (60) Iluminação
David Hamilton, Cabourg beach, France, 1970s |
quinta-feira, 12 de maio de 2022
Biografias 28. O leitor de jornais
David Turnley, Man Reading Paper Through Magnifier, 1975 |
terça-feira, 10 de maio de 2022
Haikai do Viandante (424)
domingo, 8 de maio de 2022
O sal do silêncio (80)
Lehnert & Landrock, Prayer in desert, c. 1920 |
sexta-feira, 6 de maio de 2022
Biografias 27. A tecedeira
Paul Wolff, Weaver, 1930s |
quarta-feira, 4 de maio de 2022
O Espírito da Terra (10)
Jean Dieuzaide, Vue aérienne, Montagne Noire, reboisement, 1968 |
segunda-feira, 2 de maio de 2022
Meditação Breve (179) Tempo
Ilse Bing, Poster, Henry VIII, 1934 |
sábado, 30 de abril de 2022
Câmara discreta (9)
Paul Strand, Blind, 1916 |
quinta-feira, 28 de abril de 2022
Sete Cartas - 5 Ao anjo de Sardes
Salvador Dali, Sin título (Angel surrealista), 1969 |
Em
Sardes, caminha um anjo de argila e cinza,
preso
na melancolia de uma rameira sem cor,
perdido
entre o lixo das ruas e o carvão dos dias.
Ergue
a cabeça coberta com o limo da ardósia,
a
erva estreita das paredes orladas pelo xisto da sombra.
Leva
no fundo da alma a porcelana branca
rasgada
pela espada pura dos dias de Inverno.
Conta
os espíritos de Deus e as estrelas do céu.
Conta
os fogos da revolta e os incêndios nos campos.
Conta
as obras por fazer e as noites por chegar.
Conta
os dias de tristeza e os grãos de areia.
Em
temor, escuta a palavra do silêncio entre o ruído,
a
voz coberta de luz no andaime da cegueira.
Então,
os dias passam sobre as glicínias da aurora,
os
arbustos da infância, os sonhos de ambrósia.
Noites
azuis na dança dos cedros batidos pelo vento.
Serão
perfeitos os anos diante do juízo que virá?
O
sopro do vento reanima a onda pegajosa da vida,
abre
Fevereiro à página branca iluminada pela Lua,
os
frutos amadurecidos pela errância do tempo.
Ao
guardar a terrível palavra na têmpora da noite,
será
o anjo um furtivo ladrão, ferirá a areia da praia
com
o embrião das horas, o imprevisto de cada dia.
Ano
após ano crescerá uma contaminação,
a
mancha delgada irradiando em torno do ventre,
os
dias passados sob o candeeiro de querosene.
No
Ocidente, uma nuvem de breu cavalga o vento,
as
palavras ditas em Sardes, terra de argila e cinza
habitada
pelo anjo preso aos meandros das ruas,
cansado
dos Invernos que traz na vazio das mãos,
no
êxtase da luz, na secreta avidez da rosa de Deus.
1993
terça-feira, 26 de abril de 2022
O sal do silêncio (79)
domingo, 24 de abril de 2022
Haikai urbano (72)
sexta-feira, 22 de abril de 2022
Impressões 96. Transfiguração
quarta-feira, 20 de abril de 2022
O sal do silêncio (78)
Harold Miller Null, Trulli, ca. 1970 |
segunda-feira, 18 de abril de 2022
Câmara discreta (8)
Bill Brandt, Brynhild Parker, painting a nude model, 1939 |
sábado, 16 de abril de 2022
O Espírito da Terra (9)
Otto Scharf, Going home, 1901 |
quinta-feira, 14 de abril de 2022
Sete Cartas - 4 Ao anjo de Tiatira
Salvador Dali, El ángel de Port Lligat, 1952 |
Sobre
a pródiga perfeição dos habitantes de Tiatira,
reina
um anjo de cabelos azuis, quebrado pelo fogo
do
turíbulo, por veios de mármore, linhas de luz.
Ave
na escuridão da cidade, sereia nas águas lustrais
nascidas
em côncava fonte, no cárcere do olvido.
Sob
a sua protecção crescem salgueiros, choupos,
os
rios contaminados pelo voo das borboletas,
pássaros
tomadas pela ânsia luminosa do Sul,
o
deserto onde se ouve o grito dos mortos,
o
silêncio sem fim na mudez de orvalho dos vivos.
Escrevo
as palavras acesas nas chamas de bronze,
na
obscuridade derramada no pó da terra,
o
trabalho sobre a areia perdida dos oceanos,
o
vento escaldante ao arder no centro do coração.
Um
sopro ressoa na paciente inspiração da carne,
na
nudez do amor, no silêncio dos dias de Novembro.
A
humidade das lágrimas escorre pelo vazio,
onde
a boca sorve o sangue e a seiva das giestas.
Olho
a campânula suspensa sobre a cabeça e na luz
abre-se
na fresta da manhã o cálice do dia que passou.
Corrompe-se
no esquecimento a palavra trémula.
Seca
na boca o lastro da língua, o fogo do logos,
as
palavras adulteradas pela traição da gramática.
Da
sonolência da sombra brotarão sem sentido
os
filhos das marés mortas, das vinhas incendiadas
pelo
pólen do crepúsculo, pela estrela da aurora
submetida
ao cansaço dos corvos da crueldade.
O
que mantiver a palavra e a cerzir no farol da paixão
ouvirá
o canto das esferas celestes na boca do anjo,
no
resplendor de um corpo feito de éter e incenso.
Passeará
pela sombra da tarde nas avenidas de musgo,
nas
ruas de Tiatira tomadas ao exército da loucura.
1993
terça-feira, 12 de abril de 2022
Meditação Breve (178) Moda
Horst P. Horst, Fashion model, 1938 |
domingo, 10 de abril de 2022
Histórias sem nexo 28. Cro-Magnons
sexta-feira, 8 de abril de 2022
quarta-feira, 6 de abril de 2022
Meditação Breve (177) Corpos
segunda-feira, 4 de abril de 2022
Impressões 95. A sombra da nudez
Frantisek Drtikol, Nude with shadow, 1930s |
sábado, 2 de abril de 2022
Sete Cartas - 3 Ao anjo de Pérgamo
Jackson Pollock, The White Angel, 1946 |
Sobre
as praças de Pérgamo reina um anjo.
A
voz engendrada na auréola azul das estrelas
ilumina
a gangrena na cegueira dos homens.
Com
o punhal da errância traça a fronteira
entre
o vigor da vigília e o cansaço do silêncio.
Nas
ruas da cidade guardam ainda entre mãos
as
letras de meu nome, sílabas verdes do vento,
o
alfa, o ómega, o mundo retido na palavra,
candelabro
incendiado na sombra da noite,
labareda
de luz a ondular ao ritmo da respiração.
Pedras
nascidas do tempo, roladas com demora,
flocos
de cinza onde inscrevo o meu nome
entre
símbolos da aurora e sinais de escuridão.
Falésias
fulguram bordadas pela caligrafia
com
que traço o voo da ave, o bramir da dor.
Descrêem
na palavra perdida em minha boca.
Quando
o vento tempestuoso sopra de ocidente
lançam
os joelhos por terra, erguem as mãos
na
desolada sintaxe dos dias de angústia,
na
perpétua morfologia do grito e da mágoa.
Eu
sou o vento que sopra onde quer, diz-lhes.
Em
todo o lugar animo as ervas ralas do chão,
uno
o Norte ao Sul, confundo Leste Oeste,
sou
a ave sem poiso, pássaro que não dorme,
a
música das esferas celestes na rua da razão.
Diante
do fogo fogem maculados pelo medo.
Entregam
o corpo ao escárnio, ao abrigo do sangue.
A
espada da minha boca cortará o feno pela raiz
e
nas faces inscreverá letra sobre letra a delicada
mancha
solar, a lâmpada na clausura da noite.
Sou
a água do rio a correr para o santuário da foz.
Quem
a navegar comerá a maçã da solidão.
Na
jornada, receberá a pedra branca da linguagem,
o
sangue derramado nas campânulas da aurora.
Palavra
do anjo esquecido nas ruas de Pérgamo.
1993