Georges Rouault - Barcos de pescadores ao sol poente (1939)
Não, ele não era pescador. Sempre que podia, porém, embarcava com os homens do mar para ver chegar a noite. Enquanto os homens se entregavam à faina, ele contemplava o sol. Sentia uma vertigem quando o astro começava desaparecer na linha do horizonte. A noite aproximava-se, mas uma estranha luz, a luz do crepúsculo, permanecia viva. Ele olhava para ela e sentia-a, naquela hora, como uma promessa. Também ele era um homem crepuscular. Acreditava secretamente, contudo, na promessa. A noite viria, mas a luz triunfaria e ele descobria a verdade que se ocultava no crepúsculo que o habitava, no crepúsculo que ele própria sentia ser.