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terça-feira, 1 de agosto de 2023

Sulcos de Verão 6

Jakob Nussbaum, On the Beach at Port Said, 1925

 

Conto em silêncio os meses

para desenhar do Verão

os sulcos suados da sombra.

 

Na infância, o calor era

domado pelo véu do vento,

o verde a dançar nas árvores.

 

Se ouvia o grasnar das gaivotas,

os olhos perdiam-se na água

suspensa na luz do areal.

 

Agosto de 2023

sábado, 22 de julho de 2023

Sulcos de Verão 5

Laurence Stephen Lowry, Coming from the Mill, 1930

No desabrigo da cidade,

intermináveis são as tardes

destes dias de calor aceso.

 

Por terra, frutos de Verão

lembram ruínas esquecidas

pela incúria dos homens.

 

Longos silêncios de domingo

são rugas nascidas do tempo,

preces ao Deus abandonado.

 

Julho de 2023

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Sulcos de Verão 4

Kazimir Malevich, River in the forest

O Verão desfraldou bandeiras

sobre a paisagem ressequida,

sobre as águas pardas do rio.

 

Os corpos são sombras ligeiras,

tomados pela calmaria

das tardes que nunca têm fim.

 

Ouve-se o ramalhar das árvores.

Ouve-se um cântico nas margens.

Ouve-se o júbilo de Julho.

 

Julho de 2023

 

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Pintura e haikus (32)

Chaim Soutine, House in the Country - 1934

As casas de campo
são mistérios doutro tempo.
Erma solidão.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Sulcos de Verão 3

Maurice Denis, Paradise, 1912

Envolto em fogo de artifício,

também o Verão foi trazido

pela barcaça do destino.

 

Juiz rude, sem piedade,

distribui pela terra frágil

as suas sentenças ardentes.

 

Sonho sombras e solidão,

a vinda de um Outono eterno,

luz do paraíso perdido.

 

Julho de 2023

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Sulcos de Verão 2

Eusebio Sempere, Verano, 1965

O ardor do fogo cintila,

mácula na pele rasgada

pelo dardejar dos incêndios.

 

Os corpos rastejam na sombra,

pedem a clemência da água,

o vento frio vindo do Norte.

 

Junho passa inflamado e rude

pelas ruas vazias de vida,

pelas almas ébrias de sonhos.

 

Junho de 2023

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Sulcos de Verão 1

Edvard Munch, Día de verano, 1904-1908

Como uma velha assombração

chega a verruma do Estio

cingida na luz do silêncio.

 

Os dias abrem-se em sonhos,

promessas de glória nos mares,

o olhar perdido na névoa.

 

Sento-me na sombra da tília,

oiço no rumor da memória

o verde Verão da infância.

 

Junho de 2023
 

terça-feira, 13 de junho de 2023

A Canção da Primavera 12

Mimi Fogt, Spring Time – Serra de Sintra, 1979 (aqui)

Voltemos ao centro do mundo,

ao jardim de flores eternas.

 

Voltemos aos dias luminosos,

às noites dos astros divinos.

 

Voltemos às frescas manhãs

onde canta a Primavera.

 

Junho de 2023

segunda-feira, 5 de junho de 2023

A Canção da Primavera 11

Léon Kossoff, Dalston Lane, Monday Morning, Spring, 1974

Uma Primavera soturna

desce do céu de cinza e chumbo.

 

As flores do jardim clamam água

cansadas do fardo de Junho.

 

Espreito o dia pela janela

e oiço murmurar o mundo.

 

Junho de 2023

terça-feira, 30 de maio de 2023

Pintura e haikus (31)

Sam Francis, Around the Blues, 1957-62

Girassóis azuis
erguem-se para o Verão.
Cavalos de fogo.

domingo, 28 de maio de 2023

A Canção da Primavera 10

Ana Hatherly, Cidade, 1971

A cinza caída do céu

cobre de tristeza a cidade.

 

As ruas, passagens desertas,

declinam sob uma luz pálida.

 

Esqueço-me da Primavera

na melancolia de domingo.

 

Maio de 2023
 

segunda-feira, 22 de maio de 2023

A Canção da Primavera 9

Vincent van Gogh, Camino en Saint-Rémy con figura femenina, 1889

Pelos campos corre selvagem

a luz do deus da Primavera.

 

Sem mácula ou sombra as flores

abrem-se como aves de fogo.

 

Os dias passam no adro do tempo,

são setas no meu coração.


Maio de 2023

 

domingo, 14 de maio de 2023

A Canção da Primavera 8

Fernando Lerín, sem título, 2000

As tílias sombreiam as ruas

por onde caminho em silêncio.

 

O sol embalado no vento

cintila no verde das folhas.

 

Há no murmúrio da manhã

um cântico de Primavera.

 

Maio de 2023 

sábado, 6 de maio de 2023

A Canção da Primavera 7

Georgia O'Keeffe, From the lake nº 1, 1924

Nuvens sobre nuvens encobrem

no céu o sol primaveril.

 

A sombra delida dum cisne

cresce nas águas frias do lago.

 

Ouve-se um canto luminoso,

ventos sopram vindos do Sul.

 

Maio de 2023

 

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Pintura e haikus (30)

Zao Wou-Ki, 21-14-59

Tormentos de sombra
em planícies de fria lava.
Um vulcão extinto.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

A Canção da Primavera 6

Cornelis Théodorus Marie van Dongen, Primavera, 1908

Pobre Abril, o fim tão próximo

anuncia-se no voo das aves.


Cobrem-se de folhas as árvores

e de sombras o coração.


Nos jardins, crescem em silêncio

rosas ávidas de florir.


Abril de 2023

quinta-feira, 20 de abril de 2023

A Canção da Primavera 5

Fritz von Uhde, Am Fenster anagoria, 1890

A Primavera de Verão

vestida ressoa nos ares.

 

Traz uma promessa de verde

sobre o silêncio da cidade.

 

Pássaros voam pelos céus

cobertos na sombra do dia.

 

Abril de 2023

terça-feira, 18 de abril de 2023

Haikai do Viandante (431)

Bernardo Marques, Paisagem

 Imagens sonhadas
sob um céu de azul e fogo.
Traços de carvão.

quarta-feira, 12 de abril de 2023

A Canção da Primavera 4

Abel Salazar, Na ribeira

É uma luz indecifrável

a que sobre a cidade cai.

 

Desliza no céu como um anjo

incógnito entre as nuvens.

 

Ilumina ruas e praças,

as mãos crispadas pelo vento.


Abril de 2023


terça-feira, 4 de abril de 2023

A Canção da Primavera 3

Manuel Cargaleiro, Zug – Primavera, 1961

A Quaresma como uma sombra

desliza ao sabor do vento.

 

Os dias abrem-se para a luz,

presos ao silêncio dos céus.

 

Pousada no ramo da tília,

uma ave canta a solidão.

 

Abril de 2023