Haikai do Viandante (416)

Alphonse Osbert, La Calma del agua, 1895

De súbito a água

acolhe a serenidade.

Mistérios da luz.

Haikai do Viandante (415)

Hiroshi Sugitomo: Aegean Sea, Pillon, 1990

 Sombras de silêncio

na névoa do horizonte.

O céu desce ao mar.

Haikai do Viandante (414)

James Whistler, Nocturne: Blue and Silver-Cremorne Lights, 1872

 A luz sobre as águas

traz a memória da noite.

O mundo adormece.

Haikai do Viandante (413)

Fernand Khnopff, At Fosset Under the Fir Trees, 1894

Ouve-se o silêncio

entre as sombras da floresta.

Os deuses esperam.

Haikai do Viandante (412)

Rolando Sá Nogueira, Chuva, 1960

Como a fria névoa

a chuva desce dos céus.

Dádiva dos deuses.

Haikai do Viandante (411)

Max Baur, Im Nebel, 1930

 Névoa sobre névoa,

o mistério da manhã

nas águas do rio.

Haikai do Viandante (410)

Edward Weston, Dunes, Oceano, 1936

Desertos de areia

são sonhos nunca sonhados,

são mares de mágoa.

 

Haikai do Viandante (409)

Emérico Nunes, Neve sobre o cais (Paris), 1909

Sobre o cais, a neve.

Olhos param deslumbrados,

esperam sinais.

Haikai do Viandante (408)

Henri Edmond Delacroix Cross, Sunset on the Lagoon, 1903-4

Águas da lagoa,

sombreiam crepusculares.

Margens do luar.

Haikai do Viandante (407)

Walter Leistikow, Lake Grunewald, 1898

O que permanece

no lago de Grunewald,

velado se tece.

Haikai do Viandante (406)

Erik (Dorn) Bodom, Høyfjell, 1871

As águas repousam

entre murmúrios de luz.

No céu, sombra e pássaros.

Haikai do Viandante (405)

Emile Claus, La route après l'orage, 1869

 Estrada deserta

perdida na tempestade.

Rumor no caminho.

Haikai do Viandante (404)

Benvenuto Benvenuti, Frate Foco, 1925

 Na velha cabana,

espero o dom do Inverno.

Silêncio e fogo.

Haikai do Viandante (403)

Celestino Alves, Caminho, 1960

Caminhos de Outono

recortam brancas aldeias.

Tumulto e poeira.

Haikai do Viandante (402)

João Hogan, Paisagem, 1960

 Caminhos que levam

ao sombrio silvar do lume.

Dias do viandante.

Haikai do Viandante (401)

Felix Vallotton, Moonlight, 1895

 Silêncios da lua,

sombras perdidas nos campos.

Mistérios de Outono.

Haikai do Viandante (400)

JCM, Ilha do Baleal, 2020

De súbito, a rocha

abre-se ao mar de Setembro.

Espuma e água.

Haikai do Viandante (399)

Tomás de Mello, Paisagem, 1955

Árvores despidas

 pelo vento frio do Outono

chamam o Inverno.

Haikai do Viandante (398)

Rosa Carvalho, Paisagem, 1952

Secreta paisagem

dobada na erva tardia.

A vida murmura.

Haikai do Viandante (397)

Nikolay Dubovskoy, Calm, 1890

No puro sossego

nasce a feroz tempestade.

No céu, luz e nuvens.