Vicente Vela, Bodegón del ensueño, 1991 |
Quer que lhe fale da minha mulher. Será relevante para a
terapia, presumo. Nunca a compreendi e nunca soube por que casei com ela.
Talvez quisesse fechar esse assunto. Ela vivia nos seus sonhos. Não estou a ser
alusivo. A vida de cada dia era o prolongamento do sonho que tivera durante a
noite. Havia épocas de grande monotonia, pois todas as noites ela tinha o mesmo
sonho. Tanto quanto percebi, pelo seu comportamento em estado de vigília,
os sonhos tinham uma lógica incompreensível. Ignoro por que não enlouqueci. O
que lhe aconteceu? Uma tarde, depois de almoço, disse vou dormir um pouco.
Entrou então num dos seus sonhos mais recorrentes e desapareceu. Não a voltei a
ver.
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