Fotografia de Jacques Henri Lartigue
Sentava-me ao lado dela e observávamos o oceano, comentando os
veraneantes, a ondulação, o destino dos barcos que passavam. Por vezes,
convidava-a a jantar, mas ela nem sempre acedia, protestando cansaço ou algum
incómodo ocasional. Era uma amizade intermitente. Num dia à tarde, sentados um
ao lado do outro, brilhavam-lhe os olhos. Disse-me: acabou a minha pena, posso
voltar para casa. Olhei-a estupefacto. Pena? Sim. Venha comigo. Pegou-me na mão
e levou-me para o mar. Dentro de água beijou-me longamente. Depois, dando umas braçadas,
disse-me adeus. Volto para casa, acrescentou. E enquanto se afastava mar
adentro, soltou um canto belíssimo. Quando se calou, o seu silêncio quase me
enlouqueceu.
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