sábado, 24 de novembro de 2018

A casa

Deborah Turbeville

A casa era grande e a porta estava aberta. Não hesitei. Recebeu-me o silêncio. Uma luz suave vacilava ao cair. Por vezes, irrompia um cântico. Parecia gregoriano, mas não era uma língua humana o que se ouvia. Passei por elas muitas vezes, mas nunca deram por mim. Iam e vinham. Sentavam-se aqui ou ali. Vi-as deitadas. Sempre silenciosas até que se juntavam e o canto voltava. Nessas alturas, o meu coração abrasava. Não sei se deambulei ali dias, meses, anos. Sei que um dia exclamei “estou morto!” Nesse instante, tudo desapareceu. Eu estava na rua e esperava o autocarro. Ele chegou, entrei e sentei-me. Então o canto voltou e elas sentaram-se à minha volta. Uma murmurou: a tua casa aguarda-nos.

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