sábado, 5 de setembro de 2015

A voz

José Bellosillo - Adentrándome (1992)

Quando acordou, não compreendeu de imediato a razão por que despertara. Ouviu uma voz. A sua nitidez sonora não correspondia à clareza das palavras. Eram sons que nunca tinha escutado. Parecia chamá-lo, mas não era o seu nome que ouvia. Levantou-se, saiu de casa e seguiu a voz. Caminhou, afastou-se da cidade. Parou perante a parede de neblina. O sussurro vinha de lá. Penetrou na névoa, uma angústia atravessava-lhe o coração, a voz sussurrava. O dia clareou, mas a névoa cerrou-se e a voz recrudesceu em intensidade. Estava próxima, muito próxima. Tropeçou novamente e viu um vulto. Chamou-o. O vulto voltou-se – ele estremeceu perante a sua própria imagem – e a sombra exclamou: até que enfim, eu sou a tua voz, o nome do teu nome. 

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