segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Câmara discreta (25)

André Kertész, Old Gentleman, Paris, 1926
Um súbito sobressalto abriu o coração do fotógrafo à perplexidade. Será justo conjugar para a eternidade a banalidade da velhice e a altivez do estatuto social? Terei direito a tornar manifesto um rosto marcado pelas intempéries trazidas pelo tempo, pelos desvarios da imaginação, pela sombra de um porte levedado na educação e construído na necessidade de parecer aquilo que se pensa ser? E perante o dilema a dançar no palco na consciência, deixou a câmara captar apenas a sombra de uma existência, a marca inominável de um estatuto que a morte se prepara a diluir no pó a que todos regressam.

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