Gustave Courbet, The Wave, 1869-1870 |
sábado, 31 de agosto de 2024
A sombra da água (33)
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
O Espírito da Terra (33)
Karl Greger, Sur la plage (Pays de Galles), 1897 |
terça-feira, 27 de agosto de 2024
Sonetos de Verão (9)
Celestino Alves, A Paisagem de Sines, 1964 (Gulbenkian) |
Já declina o Estio, mas o calor,
insensato, ainda atormenta
a cidade, os homens e as aves.
Um caminho sem sol, alguém
suplica.
Sob a tília espero o tempo
fresco,
a passagem do vento que escapa
da montanha e rasga o horizonte
para a noite trazer suave bênção.
Tudo passa, na pressa de chegar
ao destino inscrito no silêncio
que habita o fundo de cada
coisa.
Nos fios, pássaros negros aguardam
o sinal da partida para o Sul,
e eu oiço na morte a luz da
vida.
Agosto de 2024
sexta-feira, 23 de agosto de 2024
Sonetos de Verão (8)
João Queiroz, sem título, 2005 (Gulbenkian) |
A ardência do dia cobre de fumo
o silêncio sombrio das
avenidas,
o restolho das ruas rudes e
sujas,
o espaço aberto destas praças.
Cavaleiros sem nome regressaram,
trazem velhas memórias
fabricadas
nos rumores do tempo e nos fogos
pela morte feroz então acesos.
A cidade descobre-se perdida
num Verão insensato, num
delíquio
de donzela cativa na inocência.
As muralhas da velha praça-forte
zumbem, pálidas, negras pelos
anos.
Cavaleiros a morte aguardam.
Agosto de 2024
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
Haikai urbano (75)
Bernard Plossu, Lisboa 88, 1988 (Gulbenkian) |
nos recantos da cidade.
O peso da noite.
segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Signo sinal 20. Elementos
Carlos Calvet, Os 4 elementos, 1959 (Gulbenkian) |
sábado, 17 de agosto de 2024
Impressões 120. Cidade
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
Sonetos de Verão (7)
Jenner Augusto, Barcos na praia (Gulbenkian) |
Oiço o silvo do vento de Verão
no grasnar das gaivotas pela
praia.
Verdes águas enrolam-se em
ondas
de espuma rosada pela areia.
Passeante na pálida manhã,
solitário amante do silêncio,
no murmúrio do mar escuto o
canto
das sereias, a voz azul dos
céus.
Assim vou, meditando no segredo
encoberto na lenta luz das
águas,
no veloz vento vindo com os
barcos.
Um clamor na manhã abre o mundo
ao sigilo estático das mãos,
ao pulsar inquieto do amor.
Agosto de 2024
terça-feira, 13 de agosto de 2024
Micronarrativa (68) Sombra
Lee Friedlander, New York city, 1966 |
segunda-feira, 12 de agosto de 2024
Meditação breve (197) Realidade
Rui Filipe, Baixa-mar, 1973 (Gulbenkian) |
sábado, 10 de agosto de 2024
Sonetos de Verão (6)
Ana Maria Botelho, Le couple et l'instrument, 1980 (Gulbenkian) |
em silêncio, meditam cruéis
crimes.
A idade arrasta-os no rio
da memória, no mar do abandono.
As palavras usadas são
andrajos,
roupas gastas, metáforas
extintas
no vulcão desta língua, no fedor
com que corpos usados inda
falam.
Cada crime pensado abre ruas
onde passam memórias arrastadas
na corrente das águas quase mudas.
Andrajosas metáforas proclamam
o retorno dos mortos revestidos
por antigas palavras rasuradas.
Agosto de 2024
quinta-feira, 8 de agosto de 2024
O sal do silêncio (116)
Marcelle Cahn, sem título, 1964 (Gulbenkian) |
terça-feira, 6 de agosto de 2024
Pintura e haikus (41)
António Areal, sem título, 1961 (Gulbenkian) |
Restos de memórias
flutuam num mar vermelho.
Mundos esquecidos.
domingo, 4 de agosto de 2024
Câmara discreta (22)
W. Eugene Smith, Steelworker, 1955 |
quinta-feira, 1 de agosto de 2024
Sonetos de Verão (5)
Pierre de Chevannes, Jóvenes al borde del mar, 1879 |
uma mancha nas noites de
Agosto.
Dias deslizam nos dias, o sol vai,
vem,
inquieto, perdido no horizonte.
Relva verde desdobra-se no
olhar.
Onde eram cabanas acanhadas,
crescem casas de pedra, luz e sal.
Na memória, apenas sol e mar.
A miragem das horas carregadas
com o peso da água, com a cal
das manhãs que de súbito se
calam.
Cativei desses dias os rumores.
Raparigas despidas caminhavam
na rudeza do sol, presas ao mar.
Agosto de 2024