Georges Rouault, Automne, 1936 |
Ó pura
ascese destes dias de sombra.
Ó pura
glória do devir sem mácula.
Corro
outonal pelo desvão do tempo
e canto
livre das mágoas da vida.
Uma elegia flutua
na voz do vento,
toca na pele
das mulheres nuas,
toca a suave
nostalgia da morte
com a ciosa
luz do puro amor.
Deixo aos
anjos o reger dos dias,
o vão
cuidado com a vida breve,
as horas
presas em sombrio silêncio.
Busco na boca
das mulheres sôfregas,
incendiadas
no furor do fogo,
a água morta
do meu sangue vivo.
2023
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