Imagem obtida com IA da CANVA |
Olhou-se
ao espelho e não soube identificar o que via. Aquela imagem seria o seu reflexo
ou a de um simulacro. Abriu a torneira do lavatório e ouviu a água correr, sem
desviar os olhos daquilo que pairava diante de si. Nem todas as manhãs o
confronto com o espelho era tão cruel, abrindo-lhe uma fenda na alma, um rasgão
na memória. Quando acontecia, porém, era tomado pelo medo e uma dor germinava por
dentro do corpo, aumentava enquanto a água desaparecia. Chegado ao paroxismo da
dúvida, ao momento em que a dor se tornava insuportável, apagava a luz, voltava
costas e corria para a secretária. Caneta na mão, escrevia o primeiro verso.
Olhava-o com alívio, depois outro e outro, até que a dor desaparecia e a dúvida
tombava vencida por terra.
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