Edward Hopper - Sete da manhã (1948)
São sete da manhã. Vejo-o no relógio esquecido na montra. Está ainda tudo fechado. As lojas, as casas, mesmo o dia ainda continua coberto pelo véu da noite. São sete da manhã e ainda não descobri onde estou ou para onde vou. Oiço os meus passos no silêncio. Ao longe passam carros, gente que tem um destino, um lugar que os espera. Volto à montra e olho o relógio. Como há pouco, como há duas ou há três horas, continuam a ser sete da manhã. No vidro, vejo o meu reflexo. A barba por fazer, o cabelo em desalinho, a camisa aberta, as calças rasgadas. Afasto-me horrorizado. Dou uns passos para o lado, para fugir ao reflexo do vidro e olho de viés. Lá está a minha imagem. Presa no vidro, presa nas sete da manhã.
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