Frank Eugene, Miss Gladys Lawrence - The Seashell, 1910-13
Ela transportava sempre aquela concha consigo, levando-a,
uma vez por outra, ao ouvido. Então, ficava assim durante longos momentos. Depois, como se orasse, apertava-a nas mãos. De seguida, pousava-a e retomava o trabalho, aquele
que haveria de desfazer durante a noite. Interrompia-o para sintonizar de novo
o mar naquele objecto mágico. Sempre que o fazia, uma sombra cobria-lhe o rosto
e uma dor varava-lhe o peito. Também no dia em que, irreconhecível, Ulisses
desembarcou em Ítaca, ela levou a concha ao ouvido. O que escutou deu-lhe tal
alegria que deixou que o objecto se desprendesse das mãos e se estilhaçasse nas duras
lajes do palácio. O mar deixara de lhe falar.