172. SONHOS
as coisas simples
presas nos escombros da vida
– flores secas
cadeiras de lona
o velho ringue
vindo do tempo da infância –
renascem entre sonhos
a noite inquieta
os traz consigo
nos dias longos
de um verão sedento
e sôfrego
e ávido
de sombra e mar
171. CANTO
a dorida tarde
poisa a mão
sobre o súbito
ondular
do teu ventre
e um canto
de alvoroço
vem dessa boca
soprar fogo e luz
no baldio âmbar
do coração
170. MANHÃ
a onda fria vem
toca-te
abre-te
pétala soprada
rosa pura
pura e leve
tão leve
o tremor
sobre o mar
tão leve
a flor
ao vento
tão leve
a névoa
ao cantar
tão pura
a manhã
desenhada
em teus lábios
esperando luz
e tormento
169. MEMÓRIA
frágil como
o voo de um pássaro
a memória
anseia a penumbra
na casa breve
em que um corpo
por outro
em desassossego
espera