quarta-feira, 28 de julho de 2010

Poemas do viandante

119. A MAÇÃ

o voo da maçã
na história
daquela mão
dança como
a nostalgia
que chega
pelos dias
de setembro

se olhas
já não vês
imagens são
pequenos pontos
de erva e vento

neles
a cegueira cresce
inundando de luz
a maçã pousada
nessa mão

domingo, 25 de julho de 2010

Poemas do viandante

118. VIDA

cinza abre-se
na água
que corre
daqueles olhos

um sonho
o tempo de calcário
a flauta incendiada
onde repousa
a vida perdida
entre escolhos

sábado, 24 de julho de 2010

Poemas do viandante

117. FUTURO

o futuro não é a rosa
ou o silêncio seco
das tardes de verão

branco como um muro
de quinta
chega quando
as andorinhas partem
- sob a tua luz -
para a inquietação
do sul

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Poemas do viandante

116. ENIGMA

um fogo de ervas
no palácio
onde o rei
te espera

uma flor inclinada
como um enigma
na boca
da tarde

um traço de sombra
respira
no coração
que desperta

domingo, 11 de julho de 2010

Poemas do viandante

115. ÁRVORE

deixar vir
a árvore
com a sua
cegueira
espalhar
entre tufos
de joio
a sombra verde
do trigo

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Poemas do viandante

114. PALAVRA

a palavra
sombra
de água
no jardim
a que chamas
porto

navios
gaivotas
círculos
sobre os ombros
aí suportas
o mundo

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Poemas do viandante

113. SENTIMENTO

sentimento
luz de rosas
sobre terra
de cinza
vergada ao
vento

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dessubjectivação

Um dia de calor. Tudo se torna mais difícil. Aquilo que se exige é agora, mais que em outros dias, um campo de negação de si mesmo, um território de oblação e sacrifício. Cumprir cada uma das tarefas, não esperando nada delas, mas oferecendo-as como aprendizagem do esquecimento de si. Uso a palavra dessubjectivação. Este cumprir do dever como uma entrega e negação da vontade própria é uma forma de dessubjectivação, um rasgar da máscara, um passo para além da ilusão da nossa substancialidade. A dessubjectivação não é obrigatoriamente, como muitas vezes acontece, uma alienação, um estranhamento. Pode ser um passo para a clareira onde O que não vemos se manifesta. No sacrifício das tarefas quotidianas encontramos um caminho, um difícil caminho para quem sente o apelo da quietude. Mas há que cumprir essa Vontade que não é a nossa.

sábado, 3 de julho de 2010

Poemas do viandante

112. FOLHA

a folha tocada
pelo silêncio
inclina-se
deixa o vento
passar por ela
suspende a noite
se a seiva
dos teus dedos
se demora nela