Liv Ullmann © Norwegian Film Institute |
A
primeira vez que a vi pensei tratar-se da rainha da noite, a tortuosa personagem
de A Flauta Mágica, de Mozart. A escuridão que a envolvia não apenas
adensava o mistério como semeava à sua volta premonições das mais funestas.
Tinha-me deixado cativar pela primeira impressão e pelos temores do grupo.
Nunca deixamos de ceder ao vozear da multidão. Os dias passaram e na minha alma
foi crescendo o desconfortável sentimento de injustiça. Olhei-a com mais
atenção. A sensação nocturna parecia ceder perante um soberbo esplendor. Havia nela
uma luz intensa e inexplicável. Dentro de mim nasceu o desejo de para sempre ser
por ela iluminado. Aproximei-me. Ela olhou-me e murmurou: demasiado tarde,
também a luz do meio-dia não é filha da eternidade.
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