sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A luz do meio-dia

Liv Ullmann ©  Norwegian Film Institute

A primeira vez que a vi pensei tratar-se da rainha da noite, a tortuosa personagem de A Flauta Mágica, de Mozart. A escuridão que a envolvia não apenas adensava o mistério como semeava à sua volta premonições das mais funestas. Tinha-me deixado cativar pela primeira impressão e pelos temores do grupo. Nunca deixamos de ceder ao vozear da multidão. Os dias passaram e na minha alma foi crescendo o desconfortável sentimento de injustiça. Olhei-a com mais atenção. A sensação nocturna parecia ceder perante um soberbo esplendor. Havia nela uma luz intensa e inexplicável. Dentro de mim nasceu o desejo de para sempre ser por ela iluminado. Aproximei-me. Ela olhou-me e murmurou: demasiado tarde, também a luz do meio-dia não é filha da eternidade.
 

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