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quarta-feira, 29 de março de 2017

No reino da imobilidade

Teresa Muñiz - Aunque se mueva es pura apariencia (1998)

Uma antiquíssima tradição filosófica ligou o movimento e a aparência. O real seria o imóvel, cabendo a mobilidade ao reino das aparências. A arte - desde a pintura à fotografia, passando pela escultura - não se cansou de manifestar contra-exemplos. Também as aparências são imóveis. Se o real e o aparente são imóveis, o que será o movimento? O cinema veio dar-nos, através do fotograma e da sua montagem, uma imaginativa resposta para o enigma do movimento. Ele não passa de uma sequência de imobilidades.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O fascínio das catedrais

Albert Gleizes - Catedral (1912)

Pergunto-me muitas vezes o que motivará o poderoso fascínio que as catedrais exercem sobre o espírito. Não será uma motivação religiosa de carácter cultual ou de natureza estético-arquitectónica. Tudo isso, sendo importante, suporta uma outra coisa. Suporta uma imagem de imobilidade que se dirige ao espírito através da densidade da pedra. Para o viandante, a catedral simboliza, por instantes, o fim do caminho. Não daquele que o levou até ela, pois esse será, passada a imersão do espírito na imobilidade ali simbolizada, retomado, mas do caminho que conduz ao centro onde todos os caminhos se reúnem e dissolvem.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Da imobilidade na natureza

Karl Schmidt-Rottluff - Natureza-morta no espaço (1950)

A representação imóvel de frutas, flores, utensílios quotidianos, etc. tomou, na História da Pintura, a designação de natureza-morta. O que encontramos, porém, nas representações pictóricas de naturezas-mortas é a suspensão do movimento, a imobilidade, o repouso. O que pode ser inquietante para o espírito é, porém, a suspeita de que esta imobilidade não seja a da morte mas a expressão máxima da vida. Na suspensão do movimento, na mais pura quietude, as coisas dão-se no seu ser. São como os corpos de dois amantes. A verdade do seu amor não reside na dinâmica do jogo sexual mas na imobilidade que os convoca a tal dinâmica, no repouso em que se fundem e se subtraem ao movimento e ao tempo. Na imobilidade das coisas e dos seres encontramos um reflexo da eternidade.

domingo, 9 de setembro de 2012

A surdez do homem que corre

Kazimir Malevich - Runing Man (1932-1934)

A essência da modernidade, o seu traço substantivo e verdadeira natureza, é a velocidade. O homem corre cada vez mais e cada vez mais depressa. Qual a finalidade dessa corrida? O atletismo com as suas corridas de velocidade e de fundo é uma boa metáfora. O objectivo é correr cada vez mais depressa, ultrapassar-se no acto de correr. Essa é a sua finalidade essencial. O desenvolvimento da modernidade significa que o homem deixou de ter qualquer finalidade exterior a si mesmo para a velocidade que imprime à sua actividade. Significa, também, que reduziu todas as suas finalidades internas a executar cada vez mais depressa as tarefas que se impõe. Bater o record anterior. O homem que corre cada vez mais depressa é aquele que deixou de ser capaz de escutar o sopro do espírito. O espírito - que sopra onde quer - é demorado e lento, apela à suspensão do movimento, ao exercício da atenção, a essa imobilidade suprema que, suspendendo o mover-se, permite que o mundo se mova ao seu ritmo natural. O homem que corre cada vez mais depressa tornou-se surdo.