Secreta, chegou a luz
do Advento.
Veio no húmido
odor da terra,
nas folhas pelo chão.
Retenho na memória a voz
vinda na água
dos dias de sol e névoa.
Dezembro de 2025
A vida recolhe-se
na sonolência
dos dias, no sangue
dos mártires
vivos na viragem da morte.
Ergo o lume da tarde,
um cântico preso
no coral de quem dorme.
Novembro de 2025
Para o Sul partiram
as últimas aves.
Anuncia-se o que virá
buscar na sombra
a luz do pássaro perdido.
Deslizo pelo âmbar da tarde
e colho do chão
o silêncio de uma folha caída.
Um rasto de romã e a tinta
do dióspiro
cobrem de carmesim
os que triunfam
na peregrina névoa da dor.
Na rua, abro-me à bênção
da água lustral,
o baptismo nas chuvas de Novembro.
trazidos pelo Outono.
Os campos esperam a bênção
de todos os santos
silenciados nas ruas da cidade.
Deambulo pela memória
e oiço os mortos
nimbados no silêncio da luz.
Chegaram os dias de chuva,
o tempo de sombra
e de flores cansadas,
a hora do missionário partir
num veleiro de coral.
Saio de um sonho inquieto
e entro na terra húmida
nascida no segredo das nuvens.
Outubro de 2025
As manhãs refrescaram.
Cedo, a cidade
recolhe-as em rosário
de rosas brancas,
vermelhas de luz.
Sento-me no vime da alvorada.
Espero em silêncio
o lume do dia.
Os dias empobrecem-se de luz,
clamam por quem
da pobreza ergue uma vida,
altar onde plantas, animais e homens
desenham a cruz do amor.
Cubro-me com os estigmas da aurora
e entro na casa da penúria,
movido pela fortuna de tudo dar.
O pequeno caminho das coisas
abre-se à sumptuosa
castidade das cores:
Amarelos, vermelhos, castanhos,
o ouro destes dias.
Pego nos metais raros.
Pouso-os
na serenidade do entardecer.
Os três arcanjos
murmuram uma canção
feita de vento
e corolas de estrelas matinais.
Estremeço e abro as mãos
para o fogo ateado
nas águas negras do oceano.
Setembro de 2025