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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Geometrias de fogo (43)

Natalia Gontcharova, Paisaje rayonista. El bosque, 1913
Também as árvores sonham. Por vezes, sonhos benévolos; outras, grandes pesadelos. São sonhos colectivos. O pior dos pesadelos é o do fogo. Quando com ele sonham, as suas folhas tornam-se nas mil cores dos grandes incêndios. Visto de longe, o bosque parece abrasado. Quando nos aproximamos, descobre-se que é apenas um pesadelo colectivo, em que a metamorfose das cores é um exorcismo do mal que pode chegar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Geometrias de fogo (42)

Emil Nolde, Landscape in Red Light
O vermelho da paisagem é uma máscara onde o fogo se protege dos tormentos da água e se esconde dos devaneio do vento. Então, deixa pairar sobre a terra uma luz de bronze, onde a fantasia da tarde caminha irreverente para a lassidão apaziguada do crepúsculo.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Geometrias de fogo (41)

Ângelo de Sousa, Pintura, 1974 (Gulbenkian)

Uma casa cor-de-fogo é uma promessa estival perdida nos olhos de quem a vê. Arde lentamente, fundida no silêncio do dia, para oferecer às paredes uma aparência de labareda, um rasgo de incêndio, um lençol de chamas. Assim composta, vai dedilhando as cores quentes como quem dedilha um rosário, numa oração que os olhos vêem e o coração trémulo recita contra o dragão da noite.

domingo, 11 de maio de 2025

Geometrias de fogo (40)

Paula Rego, O Gigante de Minsky, 1958 (Gulbenkian)
O fogo é um animal selvagem: talvez um leão, talvez um leopardo, talvez um tigre. Tem garras afiadas para ferir aquilo em que toca, para queimar a pele da terra e incendiar os horizontes. Como o olhar de um grande felino, o fogo vibra na escuridão da noite. E, onde leva a luz, oferece também a escuridão das cinzas.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Geometrias de fogo (39)

Mário Cesariny, Figuras de sopro, 1947 (Gulbenkian)
Ao fogo, trouxe-o o vento, numa tarde azul. Um sopro violento, saído da boca de um gigante, fá-lo rodopiar e desenhar estranhas figuras geométricas cujas nomes ninguém sabe. Então, ébrio, dança sobre a planície, enraíza-se na terra como uma árvore e estende a ramada das suas chamas para o céu. Das labaredas ergue-se fumo. Os corações tremem. Se for branco, é tempo de paz. Se for vermelho, os cavalos da guerra entregam-se à dor do galope.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Geometrias de fogo (38)

Paula Rego, Ninho, 1972 (Gulbenkian)

Pássaros de fogo dançam na geometria de um ninho em chamas. Esperam o tumulto do vento para se lançarem em pleno voo e levarem consigo um incêndio que ateará o silêncio nos campos e o rugir dos oceanos. São aves a dançar sobre as consciências, labaredas do espírito para sagrar, no prado do tempo, o nascimento da Primavera.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Geometrias de fogo (37)

Modesto Urgell Inglada, Tempestad

O fogo trazido pela tempestade arde nos olhos dos incautos, aqueles que procuram o espectáculo do incêndio, a dança das labaredas, a cintilação do relâmpago antecedida pelo grito rouco do trovão, e esquecem o que nunca deveriam esquecer: o espírito humano não suporta muita realidade.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Geometrias de fogo (36)

Hugo Canoilas, Formas de vida simples que regressam ao mar, 2020-2023 (Gulbenkian)

Um fogo terrestre, selvagem como uma estrela do mar, transborda da dureza da rocha e inclina-se para o oceano. É um fogo incansável, desejoso de metamorfose, lava feita animal. Um grito fulgurante da Terra; um trovão ecoa na esfera celeste. 

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Geometrias de fogo (35)

Edward Hopper, People in the Sun, 1960

No Sol, manifesta-se o fogo, aquele que arde na alma e rumoreja no espírito. Perdidos na Terra, os homens voltam-se para esse astro benevolente, como se se voltassem para dentro de si para descobrir aquilo que lhes anima a vontade e incendeia a imaginação.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Geometrias de fogo (34)

Van Gogh, Pollard Willows with Setting Sun, 1888

O Sol, ao pôr-se, desenha estranhas paisagens, onde nascem, na lentidão da tarde, reflexos e imagens que não pertencem a este mundo, mas que encontram nessas geografias esboçadas pelo crepúsculo o seu lugar e a casa de que fazem a mais viva das moradas.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Geometrias de fogo (33)

Marc Chagall, The Sun of Paris, 1975

Um círculo do fogo no céu abre um mar vermelho no horizonte. Como veleiros, os pássaros navegam nas alturas o esplendor da luz. São anjos tocados pelo silêncio, promessas de vida abertas na folhagem da esperança, um rasto de verde no crivo aceso da paixão.

domingo, 28 de julho de 2024

Geometrias de fogo (32)

Fred Kradolfer, sem título, 1930 (Gulbenkian)

O fogo solar reparte-se na Terra, usa geometrias ocasionais para levar a luz e a sombra ao lugares em que os homens as esperam. Cansado, recolhe-se no ilimitado dos céus e oculto distribui as trevas como quem descansa e respira lentamente, até que, recomposto, volte à tarefa que um fado inexorável, na mecânica do universo, lhe destinou.

domingo, 23 de junho de 2024

Geometrias de fogo (31)

Hubert Robert, Roman Ruins, 1773

Por detrás da ruína do mundo, ergue-se o fogo inquieto do espírito. Quando tudo se reduz a cinzas pelo deambular das labaredas, pela desmedida do incêndio, sobe do chão calcinado aquilo que nunca foi visto, nem dito, nem pensado. Então, o espírito traça novas geometrias, descobre um espaço inédito e inventa outro tempo mais próximo da eternidade.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Geometrias de fogo (30)

Paula Rego, Contos populares portugueses, 1975 (Gulbenkian)

Há no fogo uma beleza rude, o exercício de um fascínio arcaico, a promessa de uma grande espectáculo. As labaredas dançam e o espírito deixa-se contaminar pela variação e mudança que elas, como um velho dragão, sopram sobre o mundo. Tudo muda, pensa-se, enquanto o fogo permanece firme na sua impermanência.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Geometrias de fogo (29)

José Dominguez Alvarez, Rua ao Sol, 1930 (Gulbenkian)

A impiedade do fogo cai sobe a praça. Traz em si uma premonição infernal, pesadelos a assombrar almas que tremem perante um mundo rodeado de labaredas. Os homens, para se esconder da maldição, percorrem as sombras num ir e vir até que o Sol se esconda e o fogo se perca para lá da linha do horizonte.

sábado, 30 de março de 2024

Geometrias de fogo (28)

Michel Kidner, Orange, Pink and Violet, 1964 (Gulbenkian)

O fogo decompõe-se e pacientemente elabora um catálogo de cores, onde a cada cor corresponde uma emoção, um sentimento, um desejo, uma paixão, pois não há fogo no mundo que não emane de um incêndio interior, daquilo que nos homens está em combustão, arde-lhe no sangue e surge no mundo na imobilidade do olhar.

terça-feira, 12 de março de 2024

Geometrias de fogo (27)

Joaquim Rodrigo, Trás-os-Montes, 1964 (Gulbenkian)

Há uma geometria de fogo na geografia da Terra. A incandescência esconde-se para além do horizonte, mas retorna sobre as planícies, as montanhas e os vales, desenhando triângulos e rectângulos. Por vezes, deslizam do céu círculos perfeitos. Logo se transformam em hexágonos e, mais à frente, em pentágonos. Quando a Lua nasce, o fogo é reabsorvido pela noite e a Terra descansa da sua ardente geografia.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Geometrias de fogo (26)

Anton Zwengauer, Landscape with Deer at Sunset, 1847

Era um lago habitado por um fogo plácido, um incêndio de pétalas reconciliado com a água e a terra, desejoso de serenidade, amante dos dias de sol e das noites estreladas. Um fogo feito de frutos resplandecentes e de esperanças sensatas, um fogo inclinado para o crepúsculo, um fogo que se move lentamente entre ás águas paradas e o sangue desatinado do coração.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Geometrias de fogo (25)

Vincent Van Gogh, Olive Trees with Yellow Sky and Sun, 1889

O sol envia dardos de fogo e a terra abre-se para que eles a penetrem com a sua ardência fulgurante. É um fogo cintilante que aquece os mundo subterrâneos, crepita no silêncio das noites, toca as raízes húmidas das oliveiras, sobe-lhes pelos troncos e ramos até que nos lagares os frutos se metamorfoseiam num incêndio líquido, belo como uma promessa há muito feita e agora realizada.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Geometrias de fogo (24)

Noronha da Costa, Pôr do Sol (Gulbenkian)

O sol cinda-se em línguas de fogo. Ao arderem, abrem a terra aos segredos do céu. Brilham na antecâmara da noite, dançam trémulas na casa do crepúsculo, contorcem-se em ondas luminosas, como se nelas houvesse a presença de um abecedário que, tocado pela cintilação do fogo, se desdobrasse em mil línguas, conhecidas e desconhecidas, públicas e secretas, puras e impuras.