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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Pintura e haikus (47)

Júlio Pomar, Varina Comendo Melancia, 1942 (Gulbenkian)

 Frutos do Estio:

O vermelho da varina,

azul de paixão.

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Silêncio de Outono (10)

Aurélia de Souza - Visitação

Secreta, chegou a luz

do Advento.

Veio no húmido

odor da terra,

nas folhas pelo chão.

 

Retenho na memória a voz

vinda  na água

dos dias de sol e névoa.


Dezembro de 2025

 

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Silêncio de Outono (9)

Tomás Viver Aymerich, Apunte de paisaje

A vida recolhe-se

na sonolência

dos dias, no sangue

dos mártires

vivos na viragem da morte.

 

Ergo o lume da tarde,

um cântico preso

no coral de quem dorme.

 

Novembro de 2025

 

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Silêncio de Outono (8)

Alson Skinner Clark, Autumn Blaze

Para o Sul partiram

as últimas aves.

Anuncia-se o que virá

buscar na sombra

a luz do pássaro perdido.

 

Deslizo pelo âmbar da tarde

e colho do chão

o silêncio de uma  folha caída.

 

Novembro de 2025

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Silêncio de Outono (7)

Romà Vallés, Cosmogonies. Sèrie Color (6). 1962

Um rasto de romã e a tinta

do dióspiro

cobrem de carmesim

os que triunfam

na peregrina névoa da dor.

 

Na rua, abro-me à bênção

da água lustral,

o baptismo nas chuvas de Novembro.

 

Novembro de 2025

 

sábado, 8 de novembro de 2025

Silêncio de Outono (6)

Milton Avery, Autumn, 1944

Estão colhidos os frutos

trazidos pelo Outono.

Os campos esperam a bênção

de todos os santos

silenciados nas ruas da cidade.

 

Deambulo pela memória

e oiço os mortos

nimbados no silêncio da luz.

 

Novembro de 2025

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Silêncio de Outono (5)

Benvenuto Benvenuti, Le Vele, 1930-1932

Chegaram os dias de chuva,

o tempo de sombra

e de flores cansadas,

a hora do missionário partir

num veleiro de coral.

 

Saio de um sonho inquieto

e entro na terra húmida

nascida no segredo das nuvens.

 

Outubro de 2025

sábado, 18 de outubro de 2025

Silêncio de Outono (4)

Marc Chagall, The Woman and the Roses, 1929

As manhãs refrescaram.

Cedo, a cidade

recolhe-as em rosário

de rosas brancas,

vermelhas de luz.

 

Sento-me no vime da alvorada.

Espero em silêncio

o lume do dia.

 

Outubro de 2025

 

domingo, 12 de outubro de 2025

Pintura e haikus (46)

Teresa Magalhães, sem título, 1982

 negro coração
máscara ociosa vinda
na luz de outono

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Silêncio de Outono (3)

Francesco di Stefano, St. Francis Receiving the Stigmata

Os dias empobrecem-se de luz,

clamam por quem

da pobreza ergue uma vida,

altar onde plantas, animais e homens

desenham a cruz do amor.

 

Cubro-me com os estigmas da aurora

e entro na casa da penúria,

movido pela fortuna de tudo dar.

 

Outubro de 2025

 

sábado, 4 de outubro de 2025

Silêncio de Outono (2)

Jacqueline Lamba, Forest Stream, 1947

O pequeno caminho das coisas

abre-se à sumptuosa

castidade das cores:

Amarelos, vermelhos, castanhos,

o ouro destes dias.

 

Pego nos metais raros.

Pouso-os

na serenidade do entardecer.

 

Outubro de 2025

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Silêncio de Outono (1)

Benvenuto Benvenuti, Mattino, 1935-1940

As folhas caem em silêncio.

Os três arcanjos

murmuram uma canção

feita de vento

e corolas de estrelas matinais.


Estremeço e abro as mãos

para o fogo ateado

nas águas negras do oceano.

 

Setembro de 2025

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Haikai do Viandante (445)

Adolfo Guiard, Amanecer, 1910


 Secreta manhã
desce no silêncio dos campos:
sonhos de Outono

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Virtudes de Verão (12)

Vincent Van Gogh, Camineros en el Boulevard de Victor Hugo en Saint-Rémy, 1889

semeio um grão de perseverança

no campo húmido

pelos primeiros frios matinais

 

ergo os ombros e enfrento

as tentações do estio

o deslassar da vida no gruir do tempo

 

uma porta abre-se e o infinito

oferece-me uma estrada

um caminho sem princípio nem fim


Setembro de 2025

sábado, 13 de setembro de 2025

Virtudes de Verão (11)

Salvador Dali, Playa encantada con tres Gracias fluídas, 1938

pela graça da sombra de setembro

derramo a água dançante

da gratidão

 

grato pelo murmúrio da manhã

grato pelo troar da tarde

grato pelo navio da noite

 

sulco o oceano da obrigação

preso na armadura

translúcida do reconhecimento

 

Setembro de 2025

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Virtudes de Verão (10)

William Blake, Every man also gave him a piece of money

sob o suplício de um sol sem piedade

distribuo pelo mundo os frutos

frescos da compaixão

 

tâmaras em vinho envelhecido

uvas no silêncio da noite

damascos a quem se perdeu no deserto

 

abro a mão da água que recebi

e deixo um rio deslizar

para as bocas cariadas pela sede

 

Setembro de 2025

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Virtudes de Verão (9)

John Ruskin, A River in the Highlands, 1847

pastoreio os dias de setembro

sentado no pacífico

prado da paciência

 

olho em silêncio as águas do rio

e mergulho na sombra

da tília da tarde

 

terminou o tempo de revolta

o fogo arde

na brandura do coração

 

Setembro de 2025
 

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Virtudes de Verão (8)

Carlos Prado, Barredores de calle, 1935

soçobrar no vento que corre

humílima folha

caída sob o sol de agosto

 

de lado deixo o dardo de ferro

a água da presunção

o diadema no sal da altivez

 

virtuoso observo o horizonte

a crosta dos dias

a despenhar-se na poeira da terra

 

Agosto de 2025

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Virtudes de Verão (7)

Gerhard Richter, Abstr. B., Raps, 1995

mantenho-me leal ao ethos

incendiado da origem

aos dias acesos na alvura da casa

 

as nuvens passam transportadas

por pássaros de vento

iluminadas pelo candelabro do céu

 

da fidelidade  fabrico o fogo do dia

a fortuna dos barcos

com que navego o oceano do tempo

 

Agosto de 2025

sábado, 2 de agosto de 2025

Virtudes de Verão (6)

Gerhard Richter, Abstraktes Bild, 1995

faço do veludo do verão a bolsa

de onde generoso retiro

a esmola selvagem da vida

 

distribuo-a pelas dunas cerúleas

e aos pássaros perdidos

nas frágeis falésias do oceano

 

oiço tilintar o metal das moedas

nas mãos vazias

estendidas pela rainha do silêncio

 

Agosto de 2025