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| Júlio Pomar, Varina Comendo Melancia, 1942 (Gulbenkian) |
O vermelho da varina,
azul de paixão.
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| Júlio Pomar, Varina Comendo Melancia, 1942 (Gulbenkian) |
O vermelho da varina,
azul de paixão.
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| Vincent Van Gogh, Camineros en el Boulevard de Victor Hugo en Saint-Rémy, 1889 |
no campo húmido
pelos primeiros frios matinais
ergo os ombros e enfrento
as tentações do estio
o deslassar da vida no gruir do tempo
uma porta abre-se e o infinito
oferece-me uma estrada
um caminho sem princípio nem fim
Setembro de 2025
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| Salvador Dali, Playa encantada con tres Gracias fluídas, 1938 |
derramo a água dançante
da gratidão
grato pelo murmúrio da manhã
grato pelo troar da tarde
grato pelo navio da noite
sulco o oceano da obrigação
preso na armadura
translúcida do reconhecimento
Setembro de 2025
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| William Blake, Every man also gave him a piece of money |
distribuo pelo mundo os frutos
frescos da compaixão
tâmaras em vinho envelhecido
uvas no silêncio da noite
damascos a quem se perdeu no deserto
abro a mão da água que recebi
e deixo um rio deslizar
para as bocas cariadas pela sede
Setembro de 2025
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| Gerhard Richter, Abstr. B., Raps, 1995 |
incendiado da origem
aos dias acesos na alvura da casa
as nuvens passam transportadas
por pássaros de vento
iluminadas pelo candelabro do céu
da fidelidade fabrico o fogo do dia
a fortuna dos barcos
com que navego o oceano do tempo
Agosto de 2025
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| Gerhard Richter, Abstraktes Bild, 1995 |
faço do veludo do verão a bolsa
de onde generoso retiro
a esmola selvagem da vida
distribuo-a pelas dunas cerúleas
e aos pássaros perdidos
nas frágeis falésias do oceano
oiço tilintar o metal das moedas
nas mãos vazias
estendidas pela rainha do silêncio
Agosto de 2025