quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Acerto de contas

Richard Stacks, A Drink in the Rain, 1955

Reparei nela no momento em que, sob chuva forte, parou defronte da pequena coluna de pedra, dela fez brotar a água e, como criança afogueada, a bebeu. Senti uma incongruência inexplicável e segui-a. Inventava caminhos que desembocavam noutros, que, dados alguns passos, afluíam ainda noutros. A certa altura, percebi que entrara num labirinto e que apenas podia confiar em que ela conhecesse a saída. Chegada a uma pequena praça muralhada, parou. Aproximei-me. Perguntou-me: não me conheces? Não, respondi. Uma vez dei-te um fio de lã em troca do teu amor. Salvaste-te do terrível labirinto e abandonaste-me. Agora devolvo-te a promessa de amor e levo comigo o fio. Como saí dali e posso rememorar a aventura, não o sei.

2 comentários:

  1. Então era a Ariadne...
    Havia algumas colunas de pedra (mármore?) idênticas a esta no Parque Silva Porto (Mata de Benfica), que eu tinha de atravessar para ir à catequese.
    Bebi muita água nessas fontes ou chafarizes; se a água era lustral é que não sei dizer ;-)
    A fotografia é belíssima.

    Bom Ano Novo para si e família, HV.
    🥳
    Maria

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    1. À Mata de Benfica, não terei ido mais do que umas duas ou três vezes e já não tenho memória dela.

      A fotografia ganhou um prémio, mas não sei dizer qual, teria de a procurar.

      Um bom Ano Novo, para a Maria e os seus

      HV

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