Ángel Mateo Charris - Air Angelus (1999)
Sentado na varanda, costumava vê-la trabalhar. Era meticulosa e um pouco lenta. Não seria muito velha, embora, vista de longe, o aparentasse. A gravidade devorava-a. Por vezes, parava, encostava-se à enxada ou à forquilha com que trabalhava. Olhava longamente o céu, como se sentisse saudades de alguma coisa. Logo voltava ao trabalho. Era assim do nascer ao pôr do sol. Um dia, o descanso prolongou-se. Isso perturbou-me, confesso. Estava habituado à rotina. Olhei-a com mais atenção. Quando o crepúsculo começou a cair, o corpo dela estremeceu. Com violência. Depois - havia um silêncio opressivo, recordo - começou a elevar-se. Os braços eram agora asas. Um anjo, pensei. Não a tornei a ver.
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