quarta-feira, 18 de junho de 2014

Silenciar as boas acções

Umberto Boccioni - Dynamic Decomposition (1913)

Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo. (Mateus 6: 3-4)

O que nos leva a realizar uma acção boa? Se meditarmos as palavras de Mateus, deparamo-nos, de imediato, com uma multiplicidade de intenções, as quais estão longe de se acordarem entre si. O gesto com que intervimos parece ligado tanto a motivações altruístas - o bem do outro - como a razões egoístas - a nossa necessidade de recompensa e reconhecimento social. Talvez esta dicotomia seja inultrapassável, apesar da injunção do imperativo categórico kantiano. Se essa é a nossa condição, o melhor será aprender a decomposição dinâmica das nossas motivações e, assim conscientes, realizar a sua purgação. Mas como purificar essas intenções? Pelo exercício contumaz do silêncio. Manter em segredo o bem que realizamos até que aprendamos a desprender-nos do fruto da acção. 

2 comentários:

  1. Oh, esse silêncio também tem um objectivo pouco altruísta não é? Purificar...isso é algo divino, não humano...e purificar para quê? Com o propósito de sermos bem vistos lá no Alto? Há pessoas que naturalmente dão sem pensar, intuitiva e genuinamente, com alegria e sem pensar em quaisquer recompensas materiais ou divinas...mas são muito poucas...contudo, encontram-se por aí.

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    1. Encontram-se? Que sabe o homem dos seus motivos? Purificar é o reconhecimento contínuo da sua não pureza, do seu egoísmo inveterado, o questionar sem fim da sua boa consciência.

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