sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Biografias 33. O matador

Lucien Clergue, Bullfight, Arles, France, 1970-1979

O diestro olha, e nos olhos do touro vê os seus próprios olhos. Chegados à arena, tudo o que separava sacrificador e vítima sacrificial se confunde, como se a cintilação do traje de luces trouxesse não a sombra que cai sobre a praça, mas as trevas mais densas que, na tensão do confronto, o toureiro suspeita existirem antes e depois da vida. Se na praça se ouve um paso-doble, o homem na arena está surdo na sua solidão. O touro vai e vem, e a capa ondeia levada pelo vento nascido das mãos do lidador e da raiva cega do animal. Este, preso no horror, não vive no tempo, apenas naquele instante sem sentido, no frio momento despido de futuro. O tempo pertence àquele que maneja o estoque e decide a hora desse inocente onde se projecta a culpa do matador.

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