terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Sonetos de Outono (11)

Antonio Tápies, A caída, 1982

Eis o tropel dos dias passando grave

pela diáspora da vida simples,

pela aurora doutro tempo a vir.

Eis o silêncio desta noite sôfrega.

 

Amargas dores, corações rasgados.

O abandono é semente ávida,

germina fácil no mortal terreiro

onde o ser em névoa fria se oculta.

 

Não veneremos o clamor dos deuses

sujos de sangue ou da cal da morte,

filhos de rosas sem o véu da cor.

 

Sim, é de ferro o anel de ouro.

Sim, é nocturna essa luz do dia.

Sim, é de sombra a alva nau de Outono.

 

Dezembro de 2023


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