sábado, 30 de abril de 2022

Câmara discreta (9)

Paul Strand, Blind, 1916
A câmara encontra o silêncio do olhar e transporta-o para dentro da eternidade das coisas passageiras. A mulher pensará na classificação que lhe atribuem, sem sentir o peso da chapa de registo, pura obediência à voracidade estatística com que os estados alimentam o seu desejo de conhecimento, dinâmica resignação à sorte que a vida sobre ela derramou. Num outro tempo, pensaria apenas que a deusa Fortuna lhe achara um defeito, talvez uma revolta, de que a cegueira seria a punição. Agora, perante o silêncio que a habita, espera que a misericórdia divina reverbere nos gestos da indulgência humana.

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