segunda-feira, 18 de abril de 2022

Câmara discreta (8)

Bill Brandt, Brynhild Parker, painting a nude model, 1939

O olhar desce do corpo exposto ao corpo desenhado, sem se aperceber que em toda a exposição existe uma linguagem de abandono, o sinal de um esquecimento, o sintoma de uma traição. O esboço a que os dedos se entregam, com a destreza digital de uma errância calculada, é o resultado de uma mão treinada no uso do punhal, na dissecação da carne, na húmida certeza de uma vitória sobre o que, tão desamparado, se abre à lentidão com que os olhos transferem a forma encarnada para a frieza da figura exposta na brancura do papel.

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