Max Ernst, El ángel doméstic, 1937 |
Ao
anjo que sobrevoa os céus de Esmirna,
em
suas asas, de frágeis filamentos,
cresce
uma cobertura de ambrósia,
o fruto amadurecido pelo sal de Outono.
Cintila-te
no vigor da voz o poder da palavra
daquele
que fala no murmúrio do silêncio
e
tece com mãos de ráfia dedos de ametista
a
seda esquiva do arquipélago do tempo.
No
entrelaçado fio das horas desenhou
uma
serpente suspensa sobre as ínsulas
perdidas
na caverna do esquecimento,
nimbadas
pela pétrea palidez do passado.
Fala
por aquele que permanece
na
inquietação das chuvas de Dezembro
sentado
no vácuo da terra crua
preso
ao bulício dos homens magoados
bêbados
pelo álcool do crepúsculo,
pela
cal a arder nas paredes nuas
da
casa onde sentados escutam as aves
nas
sílabas sopradas pela sirene do vento.
Conheço
de vós as obras, as mãos queimadas
pelo
coral roubado à inocência do mundo,
o
coração desatinado pelo dédalo do desejo,
os
sonhos regados pelo vinho da vitória.
Que
um esgar de dor vos prenda o rosto,
o
roube à erva e ao verde da Primavera.
Que
a cinza das palavras desça sobre as cabeças
para
vos arrebatar do vendaval da vergonha.
O
pássaro côncavo voa nos céus de Esmirna,
esconde
no feltro das asas o cristal da morte,
o
casulo onde a larva da escuridão
se
abre na crisálida da noite, a ninfa por chegar.
1993
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