sábado, 19 de março de 2022

Câmara discreta (6)

Guido Rey, A Quiet Corner, c. 1900

Olhamos e compreendemos de imediato que também o tempo se pode suspender, afastar de si a ânsia que o faz correr para se despenhar no fundo abismo do futuro. A contemplação do gesto com que as mãos bordam a brancura do pano, os movimentos do corpo que acompanham o cumprimento da tarefa, o olhar cuidadoso que se retira do mundo para a peça que se tem nas mãos, tudo isso está já fora do barco da temporalidade, ou, para ser mais preciso, ainda não caiu da eternidade no rumorejo do tempo, que, por longos instantes, se encontrará suspenso.

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