Ana Peters - A Queda (1996-97)
A tradição judaica, uma das tradições constitutivas do homem ocidental, coloca como princípio de hominização - não entendida, claro, na perspectiva científica - o mito da queda. O homem tal como o conhecemos é o resultado de uma degradação originária simbolizada, mas não descrita, na perda de Adão e Eva. É este mito que ecoa nas diversas manifestações da vida do espírito - da arte à filosofia passando pela religião -, dando-lhe um horizonte. O mito não conta apenas uma história simbólica sobre a nossa existência degradada e degradante. Traça também uma finalidade, um horizonte de toda a vida, a restauração da condição prévia à queda. O mito da queda é menos a justificação da nossa maldade, embora também o seja, do que a recordação do sentido que o homem deve dar à sua existência.
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