Jorge Carreira Maia - Auto-retrato (2014)
Se havia sol, ele vinha e parava defronte da velha parede. Na aldeia, dizia-se que ali tinha vivido em criança. As ruínas eram o que restava da casa onde nascera. Talvez. Sabe como são as coisas nos sítios pequenos. A imaginação trabalha depressa e com alvoroço. O que fazia ele perante a parede? Nada. Chegava até ela, detinha-se, olhava-a, enquanto o sol o iluminava por trás e a sombra se projectava. Um dia, porém, reparei que a sombra se tinha entranhado na parede. Fui ver. Não havia sinal de pintura. A sua presença bastara para criar o auto-retrato. Nunca mais voltou.
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