Francis Bacon - Man Turning on the Light (1973-74)
A velha barata habitava a casa há muitos anos. Era alimentado pela família e acabara por ter um quarto para dormir. Talvez tivesse ali nascido e crescido, e o seu desmedido crescimento tornara-a uma presença inquestionável. O hábito pode tudo. Grete, a filha do casal, dizia aos vizinhos: esta barata repugnante é como se fosse meu irmão. Que nome tem, perguntavam. Ela respondia: Gregor. Gregor Samsa. Um nome melancólico para barata tão grande, respondiam. Tudo isto, ao longo dos anos, fora percebido pelo insecto. O seu cérebro humanizara-se no conforto da casa. Esta noite, porém, o seu sono de barata fora entrecortado por estranhos sonhos e por dores terríveis. Tudo no corpo se lhe tornava insuportável. Na tensão do sofrimento, a barata deu um salto e precipitou-se para o interruptor. O quarto iluminou-se. Toda a cidade foi varrida por um grito pavoroso e ouviu uma voz gigantesca exclamar: meu Deus, piedade, agora sou um homem.
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