Vincent Van Gogh - Alameda cerca de Nuenen (1885)
Era uma alameda sombria, daquelas alamedas que só existem no passado, num tempo já morto e por isso mesmo perfeito. As árvores teciam uma fina rede que coava os raios de sol, deixando chegar apenas uma luz irisada e suave. Era, na verdade, o seu mundo. Todas as manhãs, pouco depois da aurora despontar, levantava-se, percorria a alameda várias vezes, sempre com o mesmo passo, sempre concentrado no andar, sempre absorto no que via. Se alguém o cumprimentava, mal respondia, fascinado pelo caminho que percorria. Passaram os meses e os anos. O que para ele se tornou um hábito, para os outros tomou o nome de tradição. As razões daquele ir e vir matutino ninguém as conhecia. Se alguém lhe perguntava, respondia: o que sabemos nós do mundo? Enlouquecera, pensavam. Ele ria para dentro e dizia para si mesmo: como podem compreender que cada vez que percorro a velha alameda ela é diferente e sempre nova? Nem uma só vez repeti a viagem. Depois, abanava a cabeça, como se todos os fossem cegos, olhava as árvores e punha-se a caminho.
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