Aníbal Sequeira, O ganhão |
Não escolheu ser ganhão, apenas o tempo passou por ele até o deixar ali, sem que ninguém perguntasse se esse era o seu desejo. Por vezes, pensava, teriam sido os animais a chamar por ele e, sem saber como, ouvira-os dentro da sua cabeça e pusera-se ao caminho. A vida rude precisa de gente rude, e ele era-o o suficiente. Se não o fosse, como teria sobrevivido às intempéries? Em criança, já os animais falavam dentro da sua cabeça, dizia a quem o ouvia, e, em silêncio, jurava-lhes que um dia estaria diante deles, conduzindo-os, para que o carro e a carga lhes fossem mais leves, para que ele os levasse ao lugar que os esperava e lhes desse de comer. Eles eram toda a sua família e não havia, na consciência de um ganhão, coisa mais importante que a família.
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