quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A rapariga do bar

Querubim Lapa, Bar, 1946
Frequentava um bar onde existiam raparigas para dançar com os clientes. Havia uma, esquiva e enigmática, que me fazia arder de desejo. Dançava apenas e nunca permitia sequer que a olhassem nos olhos. Ao contrário das outras, nunca saía acompanhada. Uma tarde, os seus olhos pousaram nos meus. Quase ceguei. Quando saiu, aceitou a minha companhia. Propus-lhe que viesse a minha casa. Anuiu. Mal fechei a porta, beijei-a. Entregou-se com volúpia aos meus lábios. Enquanto dançávamos, despia-a. Ao cair a última peça, descobri que não houvera corpo algum dentro daquela roupa. Nunca soube que lábios beijei ou que olhos me queimaram as entranhas. Uma voz dizia, diz ainda: eu sou a tua loucura. 

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