Duane Michals - da série Heisenberg’s Magic Mirror of Uncertainty (1988)
Durante anos olhava-me ao espelho para me certificar, diria cartesianamente, da minha existência, da minha identidade e, confesso, da minha beleza. Sentia-me reconfortada na evidência de mim mesma. Até que uma manhã a imagem que vi deixou-me perplexa mais do que assustada. Não, não era bonito aquilo que via. Esperei até à manhã seguinte. Nova perplexidade, pois uma outra imagem de mim, me era oferecida. Melhor uma outra deformação. A imagem que tinha de mim, assente numa lenta transformação introduzida pelo tempo, desapareceu. Nunca sei o que sou e como me pareço, e tenho de arrastar essa incerteza dia após dia. Não, não tenho coragem de quebrar o espelho.
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