Pierre Bonnard - A casa de Misia (1906)
Desenhei a casa na esperança de nela poder vir a viver. O tempo passou e a casa, primeiro vazia, foi ocupada por uma estranha mulher. Sentava-se na varanda e fechava os olhos. Sonhava, dizia-se nas redondezas. As tardes declinavam e quando a noite caía sobre a terra, ela entrava na casa e fechava a porta. O que se passava lá dentro, ninguém sabia. Talvez apenas os afazeres domésticos. Quando a luz da manhã voltava, ela abria as janelas. Chegada a tarde, tornava à varanda, sentava-se e de olhos fechados deixava a luz dançar sobre si. Sonhava. Uma tarde, do seu sonho, nasceu uma figura. Primeiro, era apenas uma sombra volátil. Ela, porém, não abriu os olhos. Com o passar do tempo, a sombra ganhou contornos nítidos, definiu as formas, tomou cores, alcançou substância. Por fim a sombra do seu sonho, agora dotada de voz, disse: esta é a minha casa. Fui eu que a desenhei e esperava-me dentro de ti.
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