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| Marc Chagall, The Woman and the Roses, 1929 |
As manhãs refrescaram.
Cedo, a cidade
recolhe-as em rosário
de rosas brancas,
vermelhas de luz.
Sento-me no vime da alvorada.
Espero em silêncio
o lume do dia.
Outubro de 2025
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| Natalia Gontcharova, Paisaje rayonista. El bosque, 1913 |
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| Karl Greger, Ein Abend Bei Dordrecht, 1892 |
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| André Kertész, Waiting for the ship, Budapest, 1919 |
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| Eugene Robert Richee, Louise Brooks, 1928 |
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| Imogen Cunningham, Braille, 1933 |
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| Eduardo Nery, Escada Mística, 1972 (Gulbenkian) |
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| George Seurat, Industrial Suburb, 1882-1883 |
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| Adolph Miethe, Dreifarbenaufnahme: nach der natur, 1903 |
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| Guilherme Camarinha, Jardim das Artes, 1967 (Gulbenkian) |
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| Vincent Van Gogh, Camineros en el Boulevard de Victor Hugo en Saint-Rémy, 1889 |
no campo húmido
pelos primeiros frios matinais
ergo os ombros e enfrento
as tentações do estio
o deslassar da vida no gruir do tempo
uma porta abre-se e o infinito
oferece-me uma estrada
um caminho sem princípio nem fim
Setembro de 2025
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| Salvador Dali, Playa encantada con tres Gracias fluídas, 1938 |
derramo a água dançante
da gratidão
grato pelo murmúrio da manhã
grato pelo troar da tarde
grato pelo navio da noite
sulco o oceano da obrigação
preso na armadura
translúcida do reconhecimento
Setembro de 2025
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| Dmitri Kessel, Venice, Italy, 1952 |
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| William Blake, Every man also gave him a piece of money |
distribuo pelo mundo os frutos
frescos da compaixão
tâmaras em vinho envelhecido
uvas no silêncio da noite
damascos a quem se perdeu no deserto
abro a mão da água que recebi
e deixo um rio deslizar
para as bocas cariadas pela sede
Setembro de 2025
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| Franz Goerke, Am Luganer See, 1903 |
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| Otto Ehrhardt, Untitled Landscape with Birch Trees, 1903 |
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| Gerhard Richter, Abstr. B., Raps, 1995 |
incendiado da origem
aos dias acesos na alvura da casa
as nuvens passam transportadas
por pássaros de vento
iluminadas pelo candelabro do céu
da fidelidade fabrico o fogo do dia
a fortuna dos barcos
com que navego o oceano do tempo
Agosto de 2025
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| Gerhard Richter, Abstraktes Bild, 1995 |
faço do veludo do verão a bolsa
de onde generoso retiro
a esmola selvagem da vida
distribuo-a pelas dunas cerúleas
e aos pássaros perdidos
nas frágeis falésias do oceano
oiço tilintar o metal das moedas
nas mãos vazias
estendidas pela rainha do silêncio
Agosto de 2025
| Loomis Dean, William Burroughs, Paris, 1959 |
| Robert Doisneau, La Dame Indignée, 1948 |
- Não é possível.
- Como?
- Olhe para ali. Não, o melhor é não olhar.
- Decida-se. Olho ou não olho?
- Uma imoralidade.
- Uma imoralidade olhar?
- Não aquilo. Não olhe.
- Será que olhar me fará assim tão mal?
- Muito pior do que imagina.
- Então, porque não despega os olhos dali?
- Sinto-me mal.
- Olhou tanto… Chamo um médico?
- Morro.
- Morre, só por olhar?
- Não, morro de inveja.
| Constantine Manos, Russia. USSR, 1965 |