quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Arqueologias do espírito 30

Carlo Carra, Sera sul Lago, 1924 

Sobre as águas adormecidas do lago, o espírito, numa arqueologia sempre inacabada, rememora-se. Procura, na noite dos tempos, as faces com que se manifestou na terra, o primeiro momento em que um coração humano suspeitou da sua presença, o grito expectante que ouviu quando os homens começaram a procurar no invisível a sua face. Ofereceu-se em sonhos, deixou que a sua natureza etérea e imaterial ganhasse contornos e, por momentos, pudesse ser pensada como um ser dotado de solidez. Logo se metamorfoseava e cobria o mundo de perplexidade, pois o seu ser não tem corpo, nem cor, nem som. É apenas um rumor que sopra como uma brisa ou assalta como um vendaval.

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