Paul Cezanne - Os Jogadores de Cartas (1890-92)
Não sou um jogador. Falta-me o talento e a sorte. Eles sim, são verdadeiros jogadores de cartas. Toda a sua vida está ali entre mãos, pronta para ser deitada sobre a mesa. A minha vida nem a sinto como minha. Como poderia sentar-me à mesa e jogá-la numa última cartada? Eles jogam e eu vejo, e ver é a condição de quem está de fora. Pergunta-me: fora de quê? Fora de mim. Quem está fora de si está fora de tudo, do mundo, da vida, do jogo. Olhe-os. Tudo neles é inocência, pertencem ao instante em que as cartas caem sobre a mesa. Eu? Eu não me pertenço, não sei jogar. Chego aqui e olho. Foi-me concedido o dom de olhar. Tem toda a razão, é uma maldição.
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