Albert Bloch - Antigo cemitério (1940-41)
Ela atravessava a aldeia e dirigia-se para o velho cemitério.
Percorria-o como se o fizesse ao acaso, parando aqui e ali, lendo uma
inscrição, compondo um ramo de flores, recolhendo-se perante a campa
de um familiar. Depois sentava-se diante de uma lápide muito antiga, sem
qualquer inscrição. Ninguém sabia a quem pertencia ou, sequer, quando fora ali
posta. Já os avós dos avós dos mais velhos a conheciam naquele lugar, mas nem
eles souberam a quem pertencia. Fascinada, pelo mistério, voltava lá todas as manhãs.
Ainda não chegara aos setenta anos quando morreu. No dia do enterro, manhã
cedo, os coveiros abriram a sepultura longe da lápide que fora o motivo da sua
vida. Depois da missa, o cortejo percorreu a aldeia e entrou no cemitério. De
súbito, uma estranha luz iluminou a velha lápide e o neto mais novo, uma
criança de colo, balbuciou: é a casa da avó. Atónitos, olharam para lá. Diante
da velha lápide uma cova funda esperava por ela.
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