quarta-feira, 14 de maio de 2008

O ego que ri e aquele que olha

Pegar num projecto e pô-lo em funcionamento. O espírito enche-se de vida, a vontade inclina-se para a acção, mas um perigo espreita no horizonte: até que ponto um novo projecto não será mais uma afirmação do meu ego, uma ilusão sobre a minha capacidade criadora, uma forma de me tomar por um pequeno deus? Não é um projecto uma forma de propriedade? Como desprender-me dele mantendo-me ao mesmo tempo firme na sua elaboração e execução? Gostaria de poder dizer: vou agir como se ele fosse uma dádiva gratuita e vou apreciá-lo como uma forma de realização daqueles a quem ele se destina. Mas como poderei acreditar neste jogo? Sinto as forças vitais do meu ser voltado para ele e mesmo que diga que ele não me pertence, o meu pequeno ego ri-se e sente-se confortado na pequena glória que já antevê. Talvez a única solução seja olhar com ironia benevolente as pretensões que esse ego apresenta e fazer o que há a fazer. Mas há aqui um enigma: quem será esse que olha com ironia e benevolência o ego que busca a sua pequena glória?

1 comentário:

  1. Mas nós somos pequenos deuses e fazer coisas faz parte do Ser divino...não devemos depois é ceder à vã glória...

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