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terça-feira, 20 de julho de 2021

Haikai do Viandante (414)

James Whistler, Nocturne: Blue and Silver-Cremorne Lights, 1872

 A luz sobre as águas
traz a memória da noite.
O mundo adormece.

domingo, 11 de julho de 2021

A Sarça Ardente - 86

Vincent van Gogh, Road with Cypress and Star, 1890
A casa onde o lume se guarda
abriu-se
e o espírito soltou-se
sobre o silêncio
que leva da infância à sabedoria.

A grande viagem pelo oceano
ilumina-se
nesse fogo de Pentecostes.
No navio, olhamos
o céu e descobrimos a Estrela Polar.

Julho de 2021

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Haikai do Viandante (413)

Fernand Khnopff, At Fosset Under the Fir Trees, 1894
Ouve-se o silêncio
entre as sombras da floresta.
Os deuses esperam.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

A Sarça Ardente - 85

Caspar David Friedrich, Summer, 1826
Chegou o tempo do lume,
do sol incandescente
sobre as paixões do corpo,
dos fogos matinais
a arder na floresta
branca da memória.
Chegou o tempo de a sarça
arder na claridade
do dia, na sombra da noite.

Julho de 2021

segunda-feira, 21 de junho de 2021

A Sarça Ardente - 84

Francisco Díaz de León, Canción de verano, Aguascalientes, 1955
O dia desenha uma elipse
ao envolver
de luz
o rumor das ruas.

Desbaratada, a sombra
esconde-se
sob a copa
verde das tílias.

Quem chega à janela
pensa ver
o mar
na cinza do horizonte.

Depois, tudo se funde –
a luz, a sombra,
as tílias –
o solstício de Verão.

Junho de 2021

 

terça-feira, 8 de junho de 2021

A Sarça Ardente - 83

Edward Burne Jones, El Lamento, 1866
A música dos dias luminosos
ondula tocada
pelo vento.

Os acordes tremem,
são folhas
de árvores cobertas

pelo ouro nascido
da hesitação
entre som e silêncio.

Junho de 2021

sábado, 29 de maio de 2021

A Sarça Ardente - 82

Albert Bloch, Mountain, 1916
Maio é um Verão indeciso,
a escarpa benévola
por onde subo
a montanha para perscrutar
a linha do horizonte.

Chegado ao cimo, olho
a flora selvagem,
caminho ao acaso e colho
os frutos silvestres
do silêncio e da solidão.

Maio de 2021

quarta-feira, 19 de maio de 2021

A Sarça Ardente - 81

Paul Cézanne - As grandes banhistas (1900-1905)
De súbito, um som de água
fende o silêncio,
o coração estremece,
o vento dança nas folhas das tílias.

A Primavera abre-se ao fulgor,
os dias tocados pela aura
do sol
crescem por dentro da alma.

Oiço um violino e nele escuto
o vento, o sol
o cântico de alegria
das almas ébrias da madrugada. 

Maio de 2021

domingo, 9 de maio de 2021

A Sarça Ardente - 80

Jackson Pollock, White light, 1954
Deixo o silêncio cair sobre o dia,
ergo-o como uma vela
no altar.

Tudo se ilumina na tarde,
as ervas presas ao chão,
os pássaros perdidos nos céus.

Uma voz canta na planície,
entra na casa onde
o silêncio se cala feito luz e sombra.

Maio de 2021

quarta-feira, 28 de abril de 2021

A Sarça Ardente - 79

António Carneiro, sem título, 1915

A claridade vem, viaja
sobre o bosque.
Pássaro de luz,
fuga ao abismo
da noite.

O coração saúda-a.
Graça derramada
para iluminar
de súbito
a sombra da Terra.

Abril de 2021

sábado, 17 de abril de 2021

A Sarça Ardente - 78

Ianthe Ruthven, Giant Lilly Pads, Kew, 1996
O segredo dos dias de estiagem
sonha sonâmbulo
nos meus passos pela alvorada.

Murmura-me no coração
voa-me nos olhos
adormece-me na noite.

Sou o meu segredo,
enigma herdado
ao entrar no alvor do mundo.

Abril de 2021

sexta-feira, 9 de abril de 2021

A Sarça Ardente - 77

Eduardo Nery, Estrutura Ambígua, 1969
Descem pela fímbria
dos dedos,
trazem metáforas
de âmbar e fogo.
Sombras e silêncios
de uma paixão
nascida na névoa
da memória,
no fogo da sarça ao arder.

Março de 2021

quarta-feira, 31 de março de 2021

A Sarça Ardente - 76

Helena Almeida, sem título, 1972
O ténue tremer do mundo
suspende-se na pétala
de uma rosa,
na sombra da casa
onde o dia nasceu.

Como sibilas, as palavras
chegam cheias
de insinuações
e logo se desfazem
em sílabas trementes de sal.

Março de 2021

sexta-feira, 26 de março de 2021

A Sarça Ardente - 75

Jaime Burguillos, Ocaso, 1976
Oiço a sarça ao arder
e abrigo-me
no rumor do incêndio.

O sangue sussurra
na errância,
vinho ávido de vida.

Parado, sigo pela rua,
espera-me
a luz do equinócio.

Março de 2021

domingo, 21 de março de 2021

A Sarça Ardente - 74

Salvador Dali, Musa de Cadaqués, 1921
O dardo do dia
trespassa
o coração incauto.

Abre-lhe uma ferida
de água
no crepúsculo da carne.

Um relâmpago arde
no cetim do céu
no repouso das horas.

Como uma seta
o dia voa
na luz dos teus olhos.

Março de 2021

terça-feira, 16 de março de 2021

A Sarça Ardente - 73

Aristide Maillol, Dans l'esprit d'une fresque, 1930
O vinho fremente da tua boca
brilha na escuridão
do firmamento.

Bebo-o no copo escuro do corpo,
e fulguro na ferida
a arder no incêndio da fonte.

Março de 2021 

quinta-feira, 11 de março de 2021

A Sarça Ardente - 72

Gerhard Richter, Abstraktes Bild, 1995
O jardim no incêndio
da tarde
abre-se em aromas
de vento e água,
deixa fugir
as primeiras notas.

Uma melodia levita
na sombra
de um céu azul
sobre o sal
das dunas e o canto
agreste das gaivotas.

Março de 2021

sábado, 6 de março de 2021

A Sarça Ardente - 71

Jan Vermeer de Delft, La mujer del collar de perlas, 1664
Conto as pérolas no colar
feito de frio e fogo,
deixo ecoar
na sombra do coração
o incenso do Inverno.

Uma cintilação toca-te
os dedos e a luz
vinda das estrelas
reverbera no rumor
das pérolas do teu nome.

Fevereiro de 2021

 

segunda-feira, 1 de março de 2021

A Sarça Ardente - 70

Ruy Leitão, sem título
Dessa poeira que sou
guardo um resto
em saco de sisal.

Vigio-a como se vigia
um tesouro
ou a costa ameaçada

por inimigo irascível.
Nos dias luminosos
oculto-a esquecido

da ondulação dos céus
onde Deus sorri
na sombra do silêncio.

Fevereiro de 2021

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A Sarça Ardente - 69

Emil Nolde, Prophet, 1912
Olho para Oriente,
a luz da manhã
rumoreja, toca
a copa das árvores,
a casa do coração.

A voz de um profeta
macerada no musgo
fere o futuro
como se lacerasse
o ventre da mãe.

Fevereiro de 2021