Pintura e haikus (18)

João Queiroz, sem título, 2016

De súbito, a luz.

Pedra a pedra, a montanha

abre-se ao céu.

Pintura e haikus (17)

Maria Helena Vieira da Silva, Bibliothèque, 1949

Pura biblioteca,
de que são feitos os teus livros?
De água, luz e sal.

Pintura e haikus (16)

Carlo Carra, Casa Abbandonata, 1930

Casa abandonada

no silêncio da floresta.

Tempo de passagem.

Pintura e haikus (15)

Frederick Sommer, Paint on cellophane, 1957

Sinal e mistério.

Sobre um abismo de trevas

esquissos de luz.

Pintura e haikus (14)

Marino Marini, Acrobats, 1960

Silêncio azul,

acrobacias de água:

Anjos no jardim.

Pintura e haikus (13)

Piet Mondrian, Composition. Light Color Planes with Grey Contours, 1919

Quadrados, rectângulos,
mundos de sombras e luz:
Por eles, o Outono.

Pintura e haikus (12)

Michel Larionov, Calle con farolas, 1910

Dédalos de luz

brilham secretos na noite.

Rua fria e lívida.

Pintura e haikus (11)

Ken Howard, High water, Summer, 1996

No meio do mar,

o Verão cresce na água.

Os homens renascem.

Pintura e haikus (10)

Mario Sironi, L'eclisse, 1942

Eclipse de pedra
no frio silêncio da rua.
O rumor da morte.

Pintura e haikus (9)

Chaim Soutine, Cagnes Landscape with Tree, 1923-24

Paisagens de verde

sombreadas de amarelo.

Luz da Primavera.

Pintura e haikus (8)

Pablo Picasso, Paisaje con dos figuras, 1908

Presos na paisagem

dois vultos de sombra e mágoa.

Tarde e solidão.

Pintura e haikus (7)

Pierre Bonnard, Le Paradis terrestre, 1916-20

O torpor de Eva

e o silêncio de Adão.

Luz no paraíso.

Pintura e haikus (6)

Fernando Lerín, sin título, 1985

Paisagens azuis

crescem na luz do Inverno.

Terra, mar e céu.

Pintura e haikus (5)

Pierre-Albert Marquet, Cielo encapotado en Hendaya, 1926

Um jogo de cores

separa céu, mar e terra.

Fantasia e mistério.

Pintura e haikus (4)

Arnold Böcklin, Château en ruine, 1847

Murmúrios de luz

sobre montes e ruínas.

Sombras do crepúsculo.

Pintura e haikus (3)

Karl Briullov, A Mother Waking Up from Her Child´s Crying, 1831

Um choro na noite

e a mãe logo estremece.

Temor e terror.

Pintura e haikus (2)

Hans Vredeman de Vries, Arquitectura fantástica com personagens, 1568

Colunas de pedra

e sombrias canções de amor.

Sonhos de Verão.

Pintura e haikus (1)

Nicolas Poussin, A Dance for the Music of Time, 1634-36

Um Janus bifronte

ouve a música do tempo.

Princípio e fim.