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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Geometrias de fogo (9)

Fogo na noite (imagem gerada por IA da CANVA)

Então, o fogo crepita como uma canção presa na armadilha da noite. Ergue-se e rumoreja, se o vento o impele. Silencia-se, quando a Lua, sobranceira, o olha de cima e lhe conta as labaredas ou lhe desenha no céu a geometria incerta com que se move, feito ladrão, por dentro das trevas e das planícies vazias da solidão. 
 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Geometrias de fogo (8)

Georgia O'keeffe, Era rojo y rosa, 1959

O fogo é uma canção que crepita no horizonte, uma parra que se desprende da vide, se chega o Outono, uma mulher tomada pela loucura do amor. Então, as chamas dançam, enquanto as cores incendiadas se desdobram, como labaredas de mármore e âmbar, entre o rosa leve da saudade e o vermelho vivo da paixão.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Geometrias de fogo (7)

Jeanne Carbonetti, Abedul en otoño, 1997

O fogo é agora sangue inflamado na seiva das bétulas, um rasto de açafrão nas folhas caídas, o brilho do cobre se batido pelo sol, o vinho vertido na brancura da toalha. Traz com ele a tentação da iridescência, mas só a cor dos incêndios desenha o seu arco num céu toldado pelo desejo das chamas e a paixão das labaredas.

domingo, 22 de janeiro de 2023

Geometrias de fogo (6)

Marc Chagall, War, 1964-66

São os piores dias aqueles em que fogo cai do céu ao som das botas cardadas. As labaredas pesam como rochas gigantescas e esmagam a terra e o que nela se move. Ao longe, vê-se a cintilação e um enorme fulgor, mas o espectador sabe que não são línguas de fogo a descer sobre o cenáculo, mas o lumaréu vindo do inferno que os homens trazem dentro de si.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Geometrias de fogo (5)

Paul Klee, Fire Wind, 1923
Se o esquecimento se debruça e cobre as planícies do coração, se os rios se escondem da cintilação da luz, se os cabelos das mulheres perdem a fulguração dos crepúsculos do Verão, então um vento de fogo cobre a Terra, inventando novas figuras onde a luz reverbera, para aquecer os corações gélidos, atear as águas que em tumulto procuram a foz, incendiar na ondulação do amor os cabelos das mulheres.

sábado, 24 de dezembro de 2022

Geometrias de fogo (4)

Thomas Cole, Expulsión. Luna y luz de fuego, 1828

Poderia ser uma canção lunar ou o rasto de um cometa perdido. Poderia ser o fogo que arde em todo o amor ou a explosão que trouxe do quase nada este universo. Poderia ser a sombra incandescente do silêncio ou o halo de um corpo transido de frio. Era, porém, outra coisa, transbordante e sem nome, pois tudo o que o fogo unge está para além de toda medida e de qualquer nomeação.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Geometrias de fogo (3)

Maria Helena Vieira da Silva, A biblioteca em fogo, 1974

Cada livro é um incêndio e uma biblioteca não é mais do que uma estrela à volta da qual orbitam, na cegueira das suas próprias trevas, esses estranhos planetas que são os leitores. Cansados de escuridão, buscam a luz. Exaustos de frio, procuram o calor. Recebem um pouco de cada um. Se tiverem sorte ser-lhes-á oferecido o dom da inquietação.

domingo, 20 de novembro de 2022

Geometrias de fogo (2)

Paul Klee, Fire Wind, 1922

O fogo é uma cornucópia de ilusões trazida na ondulação dos ventos. Ergue-se sobre a terra para brilhar na escuridão da noite, rasteja se o dia cresce no horizonte, adormece nos braços do oceano quando o cansaço lhe torce a geometria e o arrasta como um ébrio perdido no caminho. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Geometrias de fogo (1)

Vincent Van Gogh, Wheat Field with Sun and Cloud, 1889

O fogo é um discurso que brilha nos recantos da noite escura ou no silêncio que se abre no espaço entre nuvens. Desce sobre nós numa geometria feita de inquietação, toca-nos na cabeça para reverberar nos dedos ou no coração. Então, o fogo fala e todo ele é silêncio, a força que habita no mais íntimo que há no vazio e que daí traz ao ser tudo aquilo que é.