domingo, 4 de novembro de 2012

Sonetos do Viandante (5)

Michel Larionov - El desnudo azul (1903)

5. Adormecida sobre a terra pura

Adormecida sobre a terra pura,
a mão no rosto e, no corpo nu,
o véu da lua, seda e cambraia azul,
'strela selvagem, vento, água e fogo.

Puro delírio, seio aberto e suado,
rasto de sangue por amor chorado.
A tudo o sono esquece. Dor, maldade,
vida desfeita, o riso frio e imundo.

Nesta manhã desconsolada vens,
suave e sonâmbula, cobrir o dia,
com o segredo de uma rosa anil,

pura e perfeita, desmedida e bela.
Rosa que se abre sobre o corpo lívido,
rumor de pássaro no frio da tarde.

sábado, 3 de novembro de 2012

Serenidade

Miró Mainou - Serenidad (1968)

Este é o tempo que exige do viandante a maior serenidade. A violenta tempestade aproxima-se e não há abrigo onde se possa recolher nem homem que lhe estenda a mão. Nada depende da pequena vontade que lhe cabe. Resta a pura entrega ao acontecer e esperar o que à graça lhe aprouver.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Poemas do Viandante (381)

Paul Klee - A garden for Orpheus (1926)

381. Orfeu no jardim

Orfeu no jardim
sentado dedilha
a pesada lira.
Lágrimas nos olhos,
no coração a dor
e no peito a ira
por tanto desejo
lhe roubar o amor.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Haikai do Viandante (98)

Camille Pissaro - A Path Across the Fields (1879)

Amenas paisages,
velhos campos e caminhos,
 frutos e viagens.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Poemas do Viandante (380)

Vincent Van Gogh - Bosquecillo (1890)

380. No bosque frondoso

No bosque frondoso,
a sombra pálida,
canções e rumores
trazem-te o outono
coberto de musgo,
trevos e flores.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Poemas do Viandante (379)

Julia Hidalgo Quejo - Silencio (1989)

379. Silêncio de pedra

Silêncio de pedra
fala nas paredes,
quase uma sombra,
quase uma queda.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Haikai do Viandante (97)

Kazimir Malevich - Apples Trees in Blossom (1904)

Árvores em flor,
do fruto que há-de vir são
sinal e rumor.

domingo, 28 de outubro de 2012

Poemas do Viandante (378)

Javier Calvo - A partir de Keiser (1985)

378. Perdido no céu

Perdido no céu
um pássaro voa.
Entre a rosa e a cinza,
um risco quieto
ali o denuncia.
Corpo oculto e leve,
da gravidade
esquecido e nu.
Estremecem asas
na noite que morta
te abre ao dia.

sábado, 27 de outubro de 2012

Haikai do Viandante (96)

Joseph Stella - Battle of Lights, Coney Island (1913)

Multiplicidade
tão pura e tão luminosa,
rumor sem idade.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Poemas do Viandante (377)

Emil Nolde - Dark Mountain Landscape

378. O céu misterioso

O céu misterioso
cai sobre a montanha.
Tão leve e suave,
tão dorido e puro,
o céu de Novembro
que se abre na noite,
perdido no tempo.