sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Poemas do Viandante

209. Floresta (IX)

o silêncio feito
de ruídos
cresce
ecoa nas folhas
zumbe
na insondável
quietude
de uma flor
ao abrir-se
sobre a terra

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Poemas do Viandante

208. Floresta (VIII)

aves salmodiam
entre ramos
e uma brisa incendeia
nos caminhos
o musgo onde
exaustos
nos sentamos

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Poemas do Viandante

207. Floresta (VII)

caminhas
sob árvores
sombras
a neblina matinal
e despido
o teu corpo
aninha-se em mim
leve e suave
puro branco
e animal

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Poemas do Viandante

206. Floresta (VI)

um tremor
o grito de uma ave
o uivo encoberto
pelo arvoredo

o coração sussurra
e o frio cai
pelo corpo
quando uma folha
é recebida
pela terra
em alvoroço

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Poemas do Viandante

205. Floresta (V)

fios de água
um murmúrio
e a sombra
de um carvalho sem idade
 
caminhas
e o teu destino
está nesse caminhar –
o vestido ondula
ao vento
como um navio
preso no mar

domingo, 28 de agosto de 2011

Poemas do Viandante

204. Floresta (IV)

terra aberta
na clausura do folhedo
rastos de animais
o coração suspenso
a face tocada
pelo medo

vai o lenhador
espera-o
a floresta
em sobressalto
como se dele
aguardasse
delicado o amor

sábado, 27 de agosto de 2011

Poemas do Viandante


203. Floresta (III)
 
névoa sombra
da sombra
erva rala
o teu corpo
transfigurado
senta-se
sobre o musgo
e canta

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Poemas do Viandante

202. Floresta (II)

daquelas árvores
restam os ramos
quebrados pela invernia
ninhos ressequidos
a breve iluminação
de um relâmpago
no transviado sopro
do vento

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Poemas do Viandante

201. Floresta (I)

um grito fere o silêncio
e o cheiro do outono amadurece
junto ao orvalho
da manhã

soletro lentamente
uma palavra
e um bando de pássaros
poisa nos ramos inquietos
dos pinheiros

cantam o teu nome
no recanto incógnito
do meu coração

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A floresta-mulher


Se o homem é aquele que percorre a floresta, como lenhador ou guarda-florestal, a mulher é a própria floresta. A floresta não é um sítio onde, vinda do exterior, a mulher penetre e procure um caminho. O caminho da mulher é o reconhecimento da sua própria natureza florestal, com os múltiplos caminhos que a atravessam, com a obscuridade que lhe pertence, mas também com as árvores, os fetos, os líquenes e os musgos. Labiríntica, selvagem, suave, ameaçadora e disponível para ser trilhada. O homem percorre a floresta, intui caminhos, tenta orientar-se. A viagem na floresta, para o homem, é um caminho, uma peregrinação. Para a mulher a única viagem na floresta é a da coincidência consigo mesma, o estar plenamente em si, um ser-se na florestidade que a constitui, com os seus trilhos, perigos e segredos. A floresta é o símbolo da eterna inocência feminina; para o homem, é a oportunidade de, ao percorrer os trilhos florestais, tornar-se inocente.