domingo, 21 de março de 2010

Poemas do Viandante (80)


Claude Monet - The Red Kerchief: Portrait of Camille Monet (1860-70)

80. Sob a sombra

Sob a sombra,
um desejo
de água,
promessa
de noite,
se demoras.

E assim fico
no vidro
da manhã,
esperando
o sono,
contando
as horas.

terça-feira, 9 de março de 2010

Poemas do Viandante (79)

George Inness - Twilight (1860)

79. Veio o crepúsculo

Veio o crepúsculo
no dorso da tarde
e pediu pão e vinho.

Saciado, levantou-se,
ergueu os olhos
para a noite 

e, como uma rosa,
em silêncio se despediu.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Poemas do Viandante (78)

 Martin Johnson Heade - Approaching Thunderstorm (1859)

78. Das nuvens

Das nuvens,
o silêncio
do entardecer.
 

Tão húmido
e tão frio,
desliza na voz
que o vai trazer.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Poemas do Viandante (77)

77. Penumbra

Penumbra
de silêncio
e fogo.


Alegria
de sombra,

um cavalo
de sangue.


A voz
que oiço 

e logo calo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Poemas do Viandante (76)

76. Despes as palavras

Despes as palavras.
Em cada sílaba
sopra o vento.
E tudo flutua,
a dor ao relento,
ou a seda rasgada
que te deixa branca,
leve e nua.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Poemas do Viandante (75)

75. Um império

Um império
de ervas e
tormentos,

um fulgor
de sedas,
um anjo
que desliza
e trémulo
voa na praia
do esquecimento.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Poemas do Viandante (74)

74. Os dias

Os dias
onde tudo era
água.
Uma rosa

abria-se
no quintal

e a dor crescia 
vinda 
no vendaval.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Poemas do Viandante (73)

73. Uma erva baloiça

Uma erva baloiça
sob a luz
do vento.

Vai e vem,
leve
se arqueia,

e ao tocar a terra
ergue-se
para o firmamento.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Poemas do Viandante (72)

72. Sem rosto ou idade

Sem rosto ou idade,
sem luz na colina,
repouso na melancolia


e espero a sombra
que do poente 
leva ao meio-dia.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Propriedades

Chegar ao momento da verdade, àquela hora em que o ser e o compreender coincidem. O que sou eu? Nada, puro nada. Tudo o que trago não me pertence, tudo o que ostento foi roubado, tudo o que proclamo, plagiado. Mas será que compreendo tudo isso? Não, não compreendo. Todos dizemos coisas que não compreendemos. Quando o compreender, poderei dizer que tenho tudo e que sou o Rei do mundo. Agora, não passo de um pobre súbdito ajoujado ao peso das suas inúteis posses.